“A cooperação espacial entre Rússia e Brasil está num nível cada vez
mais elevado, com grandes ganhos para os dois países.” A afirmação é de José
Raimundo Coelho, diretor-presidente da AEB – Agência Espacial Brasileira, na
data em que se comemora o voo pioneiro de Yuri Gagarin ao espaço.
José Raimundo Coelho se manifestou por ocasião do Dia do Cosmonauta e da
Cosmonáutica na Rússia, em homenagem a Gagarin, o primeiro ser humano a viajar
ao espaço, em 12 de abril de 1961. Na entrevista que concedeu à Sputnik Brasil,
o físico destacou que a Rússia vem implantando no Brasil o seu sistema de
navegação por satélite, Glonass, mediante acordos da Roscosmos com
universidades. Além disso, a Agência Espacial Russa vem franqueando acesso aos
cientistas brasileiros e lhes permitindo aprofundar seus conhecimentos.
O diretor-presidente da AEB também enfatizou na entrevista que, “com
apoio da Agência Espacial Brasileira, o Laboratório Nacional de Astrofísica
(LNA) e a Roscosmos assinaram na quinta-feira, 7 de abril, em Itajubá, Minas
Gerais, um acordo para instalação de um telescópio de monitoramento de lixo
espacial”.
Nas palavras de José Raimundo Coelho, “o benefício deste acordo para o
Brasil é essencialmente a utilização dos dados, manutenção e controle da
estação de monitoramento”.
O Laboratório Nacional de Astrofísica terá o primeiro telescópio no país
com participação no projeto Sistema Eletro-Óptico Panorâmico para Detecção de
Detritos Espaciais (PanEOS), que será o segundo do projeto em operação. O
primeiro fica nas montanhas de Altai, na Rússia.
Sobre o feito pioneiro da ciência soviética de 12 de abril de 1961, o diretor-presidente
da AEB afirma que “o voo de Yuri Gagarin tem várias implicações de ordem
técnica e de ordem de visualização da importância do programa espacial no mundo
todo. Do ponto de vista técnico, é uma grande conquista, porque a Rússia foi
capaz de enviar um astronauta ao espaço, o que foi um grande feito. É claro que
a presença de uma pessoa, pela primeira vez, no espaço tem uma ordem de
grandeza enorme para o programa espacial do mundo todo, e isso levou outros
países a querer fazer a mesma coisa. Com isso, aconteceu aquela grande corrida
entre a na época União Soviética e os Estados Unidos, que levou a conquistas
tecnológicas e científicas de grande porte. O pioneirismo da Rússia e da União
Soviética é exemplar nessa área.”
O Dr. José Raimundo Coelho faz um histórico do início da conquista
espacial:
“O acesso ao espaço, do ponto de vista científico, foi iniciado por um
russo chamado Konstantin Tsiolkovsky, um cientista importante que disse para o
mundo todo, com sua ciência, que era possível e como se deveria fazer. Temos o
maior apreço por essa iniciativa. Digamos que a Agência Espacial Brasileira
está sempre se congratulando com essa data.”
A respeito da cooperação entre Brasil e Rússia na pesquisa espacial, o
presidente da AEB relaciona os momentos marcantes desse relacionamento:
“Há vários momentos que marcaram essa cooperação. Nós tivemos um
acidente no nosso programa espacial em 2003, e depois disso fizemos uma
parceria com a Rússia para nos ajudar a recuperar nosso modelo de Centro Espacial
de Lançamento e também dos nossos lançadores que serão utilizados a partir do
Campo de Lançamento de Alcântara. Houve ainda a possibilidade de alguns de
nossos engenheiros, principalmente da Força Aérea, ficarem na Rússia por algum
tempo e depois trazerem vários conhecimentos adquiridos ao longo desse tempo, e
também alguns russos que ficaram aqui no Brasil. Esse foi o início da nossa
relação na área espacial.”
José Raimundo Coelho revelou ainda que, mais recentemente, os dois
países têm reforçado a sua relação na área espacial por meio de um convênio, de
um acordo que a AEB assinou com a agência Roscosmos, tendo como princípio o
acordo que deu origem também a uma iniciativa excepcional: a instalação de
algumas estações de calibração em universidades e institutos no Brasil que
servem para os russos calibrarem a precisão do sistema Glonass.
Ele explica que o Glonass é um sistema de navegação tipo GPS, e que é
também utilizado para a calibração do GPS – os dois em atividade conjunta entre
a Rússia, os Estados Unidos e o Brasil. Segundo o físico, o fundamento básico
de uma cooperação como essa é o de os dois países estarem focados em
iniciativas que são de interesses mútuos:
“Qual o interesse da Rússia em colocar essas estações aqui no Brasil?
Ela precisa colocar essas estações em vários lugares do mundo para poder manter
o seu sistema o mais preciso possível, e nós aceitamos essa cooperação, que é
muito importante para a Rússia mas é importante para nós também porque nós
colocamos isso em ambientes universitários e de pesquisas, e esses ambientes
são próprios para a recepção de informações e de pesquisas nessa área. É bom
para a Rússia e é bom para o Brasil” – explicou.
Ainda mais recentemente aconteceu outra iniciativa no relacionamento
Brasil-Rússia na área espacial. “É a observação de detritos espaciais”, conta
José Raimundo Coelho. “É fundamental que nós mantenhamos sob controle essa
quantidade enorme de milhões de detritos espaciais para poder, de alguma
maneira, ter alguma noção do que está no espaço e onde nós possamos colocar
nossos satélites e nossas estações espaciais para que não sejam atingidos pelos
detritos. Esses detritos viajam em órbita da Terra numa velocidade de quase 30
mil km/h, e qualquer pequeno detrito do tamanho de uma bolinha de tênis, se
colidir com uma nave espacial ou com um satélite, pode causar um dano
irrecuperável. É necessário se montar um sistema no planeta que observe a
movimentação desses detritos e oriente os nossos satélites e nossas estações
para que não colidam com esses detritos. Essa é a ideia. Nós instalamos isso em
um local importante do ponto de vista técnico e tecnológico para a Rússia, mas
também importante para o conhecimento e o desenvolvimento de pesquisas em torno
desses dados e de suas aplicações. Essa é a grande vantagem, trabalhar com
iniciativas que sejam de interesse mútuo.”
Confira aqui o entrevista na Rádio Sputnik.
Agência Espacial Brasileira (AEB) via Sputnik
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