Andrei Netto
Depois de quatro anos de baixas consecutivas, a curva global dos gastos
militares virou e voltou a subir em 2015. A série de quedas foi interrompida
por uma movimentação recorde envolvendo armas, equipamentos e custeio de forças
armadas, que alcançou € 1,5 trilhão – 1% a mais do que no ano anterior.
Embora Estados Unidos e China permaneçam como os maiores orçamentos de
defesa, são os europeus e árabes que mais estão buscando armamento. O estudo
divulgado pelo SIPRI indica que a tensão militar crescente no Oriente Médio,
fruto dos conflitos armados na Síria e no Iraque, contra o Estado Islâmico, e
no Iêmen, pesa cada vez mais nos orçamentos militares.
Os dados do instituto sueco explicam por que os Estados Unidos mantêm de
longe o título de maior potência bélica do planeta. Seus investimentos em 2015 chegaram
a US$ 598 bilhões, 2,7 vezes maior do que o gasto pelo segundo colocado, a
China, que aplicou em defesa US$ 215 bilhões no ano passado. Um detalhe
importante é que nos EUA o gasto caiu 3,9% entre 2006 e 2015, enquanto que na
China aumentou 132%.
Em razão da crise econômica na Rússia, provocada pelas sanções
comerciais e financeiras dos Estados Unidos e da Europa, o orçamento militar do
Kremlin não pôde crescer no ritmo que vinha sendo mantido pelo presidente
Vladimir Putin. Em 2015, 5,4% do PIB do país foi revertido para a defesa, mas
esse percentual deve continuar a cair para 3,5% neste ano. Com isso a Arábia
Saudita, em conflito direto no Iêmen e em apoio logístico a rebeldes na Síria,
tomou dos russos o terceiro posto.
Com 6% de crescimento no ano passado e 97% nos últimos 10 anos, chegou a
US$ 87,2 bilhões.
Os orçamentos de defesa dos países do mundo árabe, porém, podem ser
afetados nos próximos anos pela queda no preço do barril de petróleo, que vem
levando alguns países da região à austeridade. Esse é o caso da própria Arábia
Saudita, mas também do Bahrein e de Omã, na Península Arábica. Produtores de
petróleo como a Venezuela e Angola também têm sido atingidos pela mesma razão,
com quedas nos orçamentos militares de 64% e 42%, respectivamente.
“As tendências atuais refletem a escalada de conflitos e tensões em
várias partes do mundo. Por outro lado, há uma clara ruptura no aumento das
despesas militares alimentado pelo petróleo na última década”, explicou Sam
Perlo-Freedom, diretor do estudo no SIPRI, em Estocolmo.
Na Ásia, a alta também se confirma. É o caso de Indonésia, Filipinas,
Japão, Vietnã, países afetados pelas tensões crescentes envolvendo a China e a
Coreia do Norte.
Com as despesas militares em alta, a receita de alguns poucos países
fabricantes de material bélico cresce. Esse é o caso dos Estados Unidos, da
China e da Rússia, que continuam a lucrar com a retormada da corrida às armas.
A tendência deve se manter em 2016. Quinto maior produtor mundial, a França,
por exemplo, negocia um contrato de venda de submarinos nucleares para a
Austrália. Valor recorde: US$ 38 bilhões.
O Estado de S.Paulo
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