A campanha de ensaios do KC-390 apresenta um novo recorde: é o protótipo
com maior disponibilidade de voo em menor tempo na história da Embraer.
A rotina de pousos e decolagens do primeiro protótipo do KC-390 é
intensa. Em média, são dois voos por dia. O futuro jato de transporte militar
da Força Aérea Brasileira já ultrapassou 150 horas de voo. A montagem da
segunda unidade foi concluída e deve se juntar à campanha de ensaios em voo em
breve. A fase é acompanhada por pilotos e engenheiros de diversas áreas da
Embraer, fabricante da aeronave instalada em Gavião Peixoto (SP).
Iniciada efetivamente em outubro de 2015, a campanha de testes em voo
envolve mais de 1.110 profissionais responsáveis por avaliar a performance,
desempenho e a robustez do maior avião já produzido no Brasil. A cada voo, o
cargueiro é avaliado em vários tipos de situação, com novas altitudes,
velocidades e configurações. Os testes deverão durar dois anos e o objetivo é
obter a certificação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e do Instituto
de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), organização militar do Comando da
Aeronáutica. Após ser certificado, o KC-390 poderá ser utilizado em missões
reais.
Para que a aeronave seja aprimorada na fase de testes, 23 câmeras foram
instaladas no interior e na fuselagem do protótipo do KC-390. Todas as imagens
e demais dados colhidos são encaminhados para a estação de telemetria, um
monitoramento remoto que possui softwares de alta tecnologia para a análise
dessas informações e ajustes necessários.
Durante essa fase, a tripulação embarcada é composta por pilotos de
prova e engenheiros de ensaio em voo com larga experiência em aeronaves civis e
militares, como Marcos Salgado de Oliveira Lima, ex-piloto de caça da FAB e que
está há dezenove anos na Embraer. Segundo ele, KC-390 é o protótipo com maior
disponibilidade na história da fabricante. A aeronave voou mais de 50 horas já
no terceiro mês de ensaios, marca que normalmente só é atingida com o
amadurecimento dos sistemas, em estágio mais avançado. Outro diferencial é que
esse projeto foi o que teve a maior campanha em túnel de vento, para que a
configuração aerodinâmica fosse definida.
“Essa integração das equipes que desenvolveram a aeronave somada à
qualidade de voo do avião faz com que ele fique muito fácil de pilotar. Ele é
preciso e rápido para realizar todas as manobras, mantendo-se uma pilotagem
suave. Ele também oferece ao piloto uma carga de trabalho muito baixa porque é
como se o avião tivesse com o piloto automático acoplado quase o tempo todo”,
acrescenta.
Desenvolvimento
O processo de gestação do jato militar foi desenvolvido pela Comissão
Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), da FAB, a partir das
demandas operacionais e de requisitos do Comando da Aeronáutica. O objetivo era
reunir em um só avião a capacidade de atender inúmeras missões, como busca e
salvamento, transporte, reabastecimento em voo, lançamento de cargas e
paraquedistas, evacuação aeromédica, combate a incêndio florestal, entre
outras.
Um trabalho feito em conjunto com engenheiros da Embraer, possibilitou
chegar às dimensões da plataforma criada para o KC-390. Uma aeronave de asa
alta, de grandes proporções, com motores a jato, capaz de pousar em pistas não
pavimentadas e não preparadas, além de contar com tecnologia de ponta empregada
em diversas áreas. Entre as inovações, o jato tanque pode ser reabastecido e
reabastecer em voo - inclusive helicópteros - e também pousar na Antártida.
Na configuração do cockpit, são cinco displays touchscreen, com telas
que facilitam a navegação do piloto e a mudança de comandos com apenas um
toque. O sistema aviônico é desenvolvido pela empresa norte-americana Rockwell
Collins, que dispensa o uso de relógios, medidores e termômetros.
O cargueiro da FAB vai ser o único da categoria que conta com o sistema
de comando de voo eletrônico fullfly-by-wire, que além de dar maior eficiência
para pilotagem, também vai proporcionar uma integração com as demais missões.
Um exemplo é o lançamento de cargas, onde o fly-by-wire irá atuar em tempo real
nas surperfícies de comando de forma a manter o avião na trajetória desejada
pelo piloto.
Indústrias estrangeiras de três países também colaboraram no
desenvolvimento do KC-390. Uma empresa argentina, a FAdeA, fabrica os spoilers
(superfícies móveis de controle de sustentação na asa), as portas do trem de
pouso do nariz, a porta da rampa, as carenagens dos flapes, o cone de cauda e o
armário eletrônico. Duas indústrias portuguesas, OGMA e EEA, são reponsáveis
por fornecer os painéis da fuselagem central, as carenagens dos trens de pouso
(sponsons), as portas dos trens de pouso principais e os profundores. E uma
indústria tcheca, a Aero Vodochody, por sua vez, produz parte da fuselagem
traseira, as portas para paraquedistas e tripulação, a porta de emergência e
escotilhas, a rampa de carga e o bordo de ataque fixo.
“Sem dúvida nenhuma o KC-390 é referência mundial em termos de
engenharia. A gente empregou o que há de mais moderno tanto naquilo que a gente
já conhecia, como em novas tecnologias pra propiciar o desenvolvimento da
aeronave, atendendo aos requisitos da FAB”, afirma o engenheiro Márcio Eduardo
Regis Monteiro, gerente de desenvolvimento de produto da Embraer.
Antes de adquirir a certificação, os protótipos também vão realizar
ensaios operacionais para os testes de desempenho das capacidades do KC-390. No
cronograma de viagens, estão previstas missões de lançamento de carga, na
região centro-oeste, e de alta temperatura no nordeste brasileiro. A previsão
também é de voar para fora do país para fazer ensaios de baixa temperatura e de
gelo natural nos Estados Unidos.
“O último grito da tecnologia aeronáutica está incorporado no KC-390,
com uma vantagem enorme no desempenho, pois é a única aeronave nesse segmento
com toda a tecnologia atualizada. Ele vai proporcionar uma flexibilidade
operacional muito grande para a FAB”, afirma Paulo Gastão, diretor do Programa
KC-390 na Embraer.
Mercado
Fruto da capacitação tecnológica, o KC-390 vai significar um salto
operacional para as Forças Armadas e um avanço para a indústria aeronáutica
brasileira. Ao todo, 28 unidades foram encomendadas pela Força Aérea Brasileira
e devem ser entregues a partir de 2018.
De acordo com o gerente do Programa KC-390 na FAB, Coronel Cláudio
Evangelista Cardoso, o novo avião vai colaborar para o fortalecimento da
Estratégia Nacional de Defesa e para o crescimento da indústria nacional. “É um
marco para a FAB porque vamos receber uma aeronave up-to-date, ou seja, o que
tem de mais moderno na sua categoria”, comemora.
Graças às vantagens apresentadas, o KC-390 tem despertado interesse no
mercado internacional. Segundo o presidente da Embraer Defesa & Segurança,
Jackson Schneider, existe uma demanda de mercado por novas aeronaves na
categoria do jato militar. “Estamos conversando com alguns clientes em
potencial. O feedback tem sido extremamente positivo, confirmando que estamos
no caminho certo”, declara.
A linha de produção em série do cargueiro deve iniciar no próximo ano,
com uma expectativa de geração de 1.060 empregos diretos e 5.300 indiretos.
Cláudia Renata de Miranda, eletricista e montadora de avião, participou da
montagem dos protótipos. Segundo ela, é uma satisfação enorme fazer parte desse
processo. “Quando vi o avião decolando pensei: poxa, eu trabalhei nesse avião!
É como se fosse um filho, a gente se envolve bastante”, comenta.
Agência Força Aérea
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