A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) levou a sério uma ameaça
contra o Brasil publicada no Twitter por um militante do "Estado
Islâmico" (EI) em novembro de 2015. No tuíte, o francês Maxime Hauchard
disse que o país seria o próximo alvo do grupo responsável pelos recentes
atentados em Paris e Bruxelas, que deixaram dezenas de mortos. O diretor de
contraterrorismo da Abin, Luiz Alberto Sallaberry, afirmou que a mensagem eleva
a probabilidade de o país sofrer ataques terroristas e também estimula as
adesões de brasileiros ao grupo jihadista.
Especialistas ouvidos pela DW divergem sobre o risco de ataques durantes
os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Mas eles concordam que, apesar de o país
não ter um histórico de ações terroristas internacionais nem estar envolvido em
conflitos geopolíticos, um evento da magnitude dos Jogos Olímpicos – com
delegações de mais de 200 países e grande audiência mundial – eleva o nível de
alerta, pois se trata de uma vitrine para chamar a atenção internacional.
"Há o risco de terrorismo no Brasil porque o país vai abrigar um
evento do porte dos Jogos Olímpicos. Eu acho que os brasileiros não seriam
alvos diretos, mas os Jogos serviriam de palco, onde atletas internacionais
poderiam ser atacados", diz Fernando Brancoli, especialista em segurança
internacional da FGV-Rio/CPDOC. "Haverá atletas de Israel, da França e dos
Estados Unidos, que tradicionalmente são vistos como alvos potenciais pelo EI
ou por outros grupos terroristas."
Para Brancoli, a maior ameaça vem dos chamados lobos solitários, que são
mais difíceis de serem rastreados por agirem sozinhos e, portanto, não se
comunicarem. Trata-se de pessoas que se autorradicalizam e não necessariamente
foram treinadas por grupos terroristas.
"Além disso, é mais fácil obter uma grande quantidade de
explosivos, fertilizantes [usados na construção de bombas] e armas no Brasil do
que em outros países", afirma.
O especialista em segurança internacional Héctor Luis Saint-Pierre, da
Unesp, opina que a probabilidade de o Brasil sofrer um ataque agora é a mesma
que os Estados Unidos teriam em 2001 ou a França antes dos atentados no final
do ano passado.
"Talvez eles não estivessem
contando com a possibilidade de atos terroristas. E é justamente nessa falta de
cálculo que os terroristas operam. O Brasil é vulnerável a ataques terroristas
como qualquer outro país. Nenhum sistema é absolutamente seguro", diz.
Já o especialista em segurança Antônio Flávio Testa, da UnB, avalia que
um ataque no Rio de Janeiro é muito difícil de ocorrer, já que o governo
federal está se preparando há meses e os Jogos vão acontecer basicamente em
apenas uma cidade. "O EI já tem dificuldades imensas na Europa e nos EUA
para realizar atentados. Abrir mais uma frente [na América do Sul] durante esse
grande evento internacional teria um custo muito grande", avalia.
Abin: "Não existe risco zero"
Em entrevista à DW no final do ano passado, Sallaberry afirmou que o
Brasil trabalha discretamente, com o apoio de serviços de inteligência
estrangeiros, para monitorar eventuais ameaças. Mas, ao mesmo tempo, ele
admitiu que "não existe risco zero quando o tema é segurança e, muito
menos, quando se trata de terrorismo".
Os Jogos Olímpicos já foram alvo de atentados terroristas. Em 1972,
durante os Jogos de Munique, 11 membros da delegação de Israel e um policial
alemão foram mortos por militantes do grupo Setembro Negro, ligado à
Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1996, em Atlanta, duas
pessoas morreram por causa da explosão de uma bomba no Parque Olímpico.
Segundo a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos
(Sesge), do Ministério da Justiça, o Brasil contará com um efetivo de 85 mil
pessoas para garantir a segurança da Rio 2016, entre eles 47 mil profissionais
de segurança pública, incluindo cerca de 9.500 da Força Nacional, 18.500
policiais militares e 1.822 policiais civis do Rio de Janeiro. Além disso, as
Forças Armadas vão disponibilizar 38 mil soldados.
Em documento sobre a segurança dos Jogos, a Sesge diz que a cooperação é
a principal ferramenta das forças de segurança contra o terrorismo, ao lado da
capacitação e investimentos em equipamentos. A secretaria lembra que a Polícia
Federal tem uma divisão de terrorismo há mais de 20 anos e adidâncias em mais
de 20 países, além de participar da Interpol, onde troca informações com 190
países.
Para Brancoli, o Brasil está bem preparado.
Mas, com a lei antiterrorismo aprovada no final de fevereiro pelo Congresso,
abre a possibilidade da naturalização de práticas que podem ser danosas para a
sociedade civil, como a criminalização de movimentos sociais.
"Eu estaria menos preocupado com um ataque terrorista no Brasil,
apesar de as chances existirem. Sou mais reticente sobre essas práticas que vêm
a reboque da constituição jurídica do que é um terrorista.
Essas ferramentas poderiam ser usadas pelo governo não só contra
terroristas, mas também para enfrentar opositores e cercear os direitos
individuais dos brasileiros", conclui.
DW - Deutsche Welle
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