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Militares nas ruas do Rio: segurança para uns, mau sinal
para outros
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Maior
esquema de policiamento da história do Brasil pode representar pausa na luta
diária dos cariocas contra violência, mas expõe falência da segurança pública.
Sensação é de que, passado o evento, dura rotina voltará.
Por
todo o Aeroporto Internacional do Galeão, nas proximidades de estações de
metrô, do lado de fora dos locais de competições e mesmo pelas esquinas:
soldados camuflados prestam guarda por todo o Rio de Janeiro, com os rifles
apontados para baixo.
A
cidade já vive em plenitude a operação de segurança olímpica, a maior que o
país já viu: 21 mil soldados foram mobilizados para auxiliar a polícia na
complexa questão da segurança na metrópole, oferecendo quase uma trégua na luta
diária do carioca contra a violência.
Segundo
o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, entre 4 e 27 de
julho houve uma queda de 16% no número de furtos e 27% dos assaltos, em relação
a 2015, enquanto a cidade se prepara para receber meio milhão de visitantes
estrangeiros.
Por
trás dessa demonstração de presença física, porém, o emprego das Forças Armadas
revela a inadequação da polícia carioca, numa cidade em que a segurança pública
é normalmente precária. E deixa a sensação aos moradores de que, passados os
Jogos, tudo voltará ao normal.
O
estado do Rio teve em média 16 mortes violentas por dia entre janeiro e junho
deste ano, um total de mais de 3 mil, segundo dados do Instituto de Segurança
Pública (ISP). O crime que mais cresce é o roubo de rua: a média é de 13 por
hora no estado.
"A
segurança pública está em processo de falência", afirma Newton Oliveira,
especialista em segurança e professor de direito na Universidade Presbiteriana
Mackenzie no Rio, que atuou como consultor no planejamento de segurança nos
Jogos Pan-Americanos de 2007.
O
número de militares na cidade-sede foi acrescido de 3 mil, a pedido do
governador interino Francisco Dornelles. Ele declarou que as finanças públicas
estão em "estado de calamidade", e que sem o apoio do governo federal
o Rio não conseguirá cumprir suas obrigações referentes ao evento, incluindo
serviços-chave como a segurança, em iminente perigo de colapso. Dornelles
pediu, ainda, que os soldados permaneçam na cidade após os Jogos.
"A presença das Forças Armadas na segurança das Olimpíadas é indispensável. No entanto, a forma como está sendo usada – como uma espécie de 'remendo universal' para cobrir os erros gritantes no planejamento da segurança olímpica – pode resultar um uso ineficaz", alerta Oliveira.
Preocupação
é constante, diz governo
Ao
mesmo tempo, os recursos públicos foram drenados ainda mais para hospedar os
Jogos, e a insatisfação pública com o evento emerge como fonte adicional de
apreensão.
A
chegada da tocha olímpica ao estado do Rio, na última quarta-feira (26/07), foi
recebida com protestos: a chama chegou a ser apagada – o que supostamente
voltou a se repetir mais tarde na cidade serrana de Petrópolis. A tocha está
programada para chegar à cidade do Rio de Janeiro nesta quinta-feira,
antecipando a cerimônia de abertura de 5 de agosto.
Falando
à imprensa após um encontro com os chefes de segurança no Centro Integrado de
Comando e Controle (CICC), o secretário estadual de Segurança relatou que a
polícia estava informada sobre a existência de movimentos sociais exigindo que a
chama olímpica fosse apagada ao chegar à metrópole.
"Nossa
interpretação é que haverá protestos", disse Beltrame. "Temos vários
lugares com problemas potenciais. O que estamos fazendo aqui desde 2007 é
procurar antecipar, fechar todos esses tipos de lacunas; porque o Rio de
Janeiro é, sem dúvida, difícil, como qualquer cidade."
Para
o secretário, a preocupação com a segurança pública é constante:
"Segurança é algo que sempre temos que estar tentando antecipar. Acho que
ninguém vai jamais me ver relaxado em relação à segurança, independente do
evento. A preocupação sempre existe."
Clima
de apreensão
E,
para o visitante estrangeiro, ver extensa patrulha nas ruas, especialmente
militar, não necessariamente transmite a sensação de segurança.
Alguns
voluntários que trabalham para a Rio 2016 revelaram-se apreensivos em relação a
sua segurança pessoal na cidade. Em junho, a jogadora de basquete e velejadora
australiana Liesl Tesch foi vítima de um assalto a mão armada no bairro do
Flamengo, na zona sul.
Na
sexta-feira o governo brasileiro dispensou a firma de segurança privada
encarregada de supervisionar os locais olímpicos, por esta não ter conseguido
apresentar os 3.400 empregados necessários à função, e a substituiu por
funcionários da polícia federal e estadual.
Na
Vila Olímpica, a segurança foi intensificada depois que foram roubados um
computador e camisetas da delegação australiana, durante um alarme de incêndio.
No
entanto, alguns se sentem, até o momento, tranquilizados com a presença dos militares
– como o tcheco Jiri Prskavec, de 23 anos, que competirá em canoagem slalom:
"Você vê o Exército por toda parte, então não há por que ter medo. Eles
estão até guardando a nossa casa do lado de fora da Vila Olímpica. Eu me sinto
muito seguro."
DW
- Deutsche Welle
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