Mais de dois anos depois da
anexação da península ucraniana após um referendo considerado ilegal pelos
países ocidentais, a denúncia de Moscou, desmentida por Kiev, deu lugar a uma
troca de acusações como não havia ocorrido em meses e obrigou as duas partes a
reforçar seus dispositivos militares na zona.
"Eu ordenei a todas as
unidades nas regiões situadas na fronteira administrativa com a Crimeia e ao
longo da linha de frente no Donbass (leste da Ucrânia) a se colocar em estado
de alerta", anunciou o presidente ucraniano Petro Poroshenko.
Poucas horas antes, o presidente
russo, Vladimir Putin, anunciou que reforçaria a segurança na Crimeia após
acusar as autoridades ucranianas de "passar ao terror", e reunir seu
Conselho de Segurança.
"Foram debatidas medidas
adicionais para garantir a segurança dos cidadãos e das infraestruturas vitais
da Crimeia", explicou a presidência. Os participantes "estudaram
detalhadamente as possíveis medidas antiterroristas para proteger as fronteiras
terrestres, as águas territoriais e o espaço aéreo da Crimeia", disse a
mesma fonte.
Este Conselho de Segurança reuniu
o primeiro-ministro Dmitri Medvedev, os ministros das Relações Exteriores,
Serguei Lavrov; o da Defesa, Serguei Choigu, e o do Interior, Vladimir
Kolokolsev, assim como responsáveis dos serviços secretos russos (FSB),
Alexandre Bortnikov, e da inteligência exterior (SVR), Mikhail Fradkov.
Um responsável da Otan declarou
que a Aliança acompanhava "de perto e com preocupação" a situação na
região da Crimeia.
"A Rússia não forneceu
nenhuma prova tangível de suas acusações contra a Ucrânia", acrescentou.
Neste contexto, o Conselho de
Segurança da ONU se reuniu nesta quinta para discutir a tensão crescente entre
Rússia e Ucrânia.
"Estamos extremamente
preocupados com o aumento da tensão perto da fronteira administrativa entre a
Crimeia e a Ucrânia", declarou, por sua vez, a porta-voz do Departamento
de Estado americano, Elizabeth Trudeu.
Desviar a atenção?
O FSB acusou Kiev de ter lançado várias incursões de "sabotadores-terroristas" que terminaram em confrontos armados e que custaram a vida, segundo Moscou, de um agente do FSB e de um militar russo.
Segundo o FSB, um primeiro grupo
foi descoberto perto da cidade de Armiansk, na Crimeia, na madrugada de 7 de
agosto em posse de vinte artefatos explosivos caseiros e vários quilos de TNT.
Outros dois grupos foram interceptados na noite seguinte, apoiados por disparos
do exército ucraniano, segundo a mesma fonte.
Fontes citadas pelo jornal russo
Kommersant afirmaram que as pessoas detidas queriam atacar zonas turísticas da
península, conhecida por suas praias, para "semear o pânico"
provocando pequenas explosões.
O presidente ucraniano, Petro
Poroshenko, denunciou acusações "absurdas e cínicas", que servem de
"pretexto para novas ameaças militares contra a Ucrânia".
O ministério da Defesa ucraniano
evocou uma "tentativa de justificar a mobilização e as agressões" das
forças russas na região.
Perguntados pela AFP, vários
cidadãos da Crimeia que vivem perto da fronteira ucraniana disseram ter visto
grandes movimentos de veículos militares na região nos últimos dias.
Os Estados Unidos, através de seu
embaixador na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, disseram não ter "visto nada que
corrobore as acusações da Rússia" e culparam Moscou por utilizar
"frequentemente falsas acusações para desviar a atenção de seus atos
ilegais".
Agence France-Presse (AFP)
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