Roberto Godoy
Instalação
é um novo ponto de tensão em meio à delicada relação bilateral com vizinho
A
Rússia quer montar no litoral caribenho da Venezuela uma base aeronaval ou, ao
menos, um centro de apoio técnico para navios e aviões de ataque em missão de
longa distância. A iniciativa faz parte do plano do governo do presidente
Vladimir Putin, de recuperação da rede de instalações militares que era mantida
em 15 países pela extinta União Soviética, segundo revelou há uma semana o
vice-ministro da Defesa, Nikolai Pankov, durante apresentação na Duma, a câmara
baixa do legislativo.
Forças
russas e venezuelanas realizam exercícios conjuntos desde 2008. Alguns dos
ensaios envolveram o deslocamento de grandes bombardeiros supersônicos e navios
de capacidade estratégica. O fornecimento de equipamentos de defesa russos para
as forças bolivarianas é estimado em cerca de US$ 10 bilhões, em contratos
celebrados por 11 anos a contar de 2005.
Segundo
disse ao Estado um ex-ministro da Defesa da Venezuela (hoje na oposição ao
governo do presidente Nicolás Maduro), o complexo russo pode ser construído em
Puerto Cabello, no litoral norte do país, um ponto avançado de rápido acesso ao
Mar do Caribe. No local funciona a base Agustin Armário, a maior da Marinha
local. “O sistema exigiria poucas adaptações para atender embarcações russas –
o mesmo se aplica quanto às aeronaves e o aeroporto da cidade”, destacou o
ex-ministro. Em Puerto Cabello opera a Refinaria de El Palito, um amplo
terminal da PDVSA. Em crise, a unidade de processamento da estatal de óleo e
gás estaria produzindo apenas 30% de sua capacidade estimada de 140 mil
barris/dia.
Embora
de longo prazo, é um segundo ponto de alerta para as autoridades brasileiras –
depois da onda migratória de candidatos a refugiados na linha de 1.492 km de
fronteira binacional – na delicada relação bilateral entre Brasília e Caracas.
A questão é tratada com cuidado pelo governo. Em nota de uma linha, o
Ministério da Defesa declarou que não comenta o assunto. O Ministério das
Relações Exteriores, nem isso. Todavia, em dois dos três comandos militares,
oficiais da área de estudos estratégicos ouvidos pelo Estado, admitem
informalmente que a situação esteja sendo acompanhada.
O
projeto da Rússia prevê bases em dez países. Na América Latina, a prioridade é
a reativação da Estação de Inteligência de Lourdes, em Cuba. No mundo, a expansão
do conjunto de Tartus, na Síria, para receber tropas e equipamentos de combate,
é a meta de curto prazo.
No
primeiro ensaio de russos e venezuelanos, em 2008, oficiais do Brasil foram
convidados a participar das atividades na condição de observadores. No dia 10
de setembro pousaram na base aérea de Caracas dois bombardeiros estratégicos
Tu-160 Blackjack. Os jatos, de asas de geometria variável, voam a 2.200 km/hora
com alcance de 17.400 quilômetros. Levam 40 toneladas de mísseis e bombas,
várias delas armadas com cargas nucleares de médio porte. O motivo do exercício
foi a verificação da pequena rede de radares de vigilância da Venezuela. No
mar, o protagonista era o cruzador nuclear Pedro, O Grande, de 252 metros que
transporta 20 mísseis Shipwreck (10 metros, 7 mil kg) capazes de atingir alvos
a 700 km – depois, substituídos por versões com raio de ação de 1.500 km.
O
arsenal tem ainda cinco tipos de mísseis especializados – antiaéreos,
antinavio, antissubmarino e de defesa a curta distância. Lançado em 1996,
recebeu recursos digitais de última geração. Os 700 tripulantes contam com um
centro integrado de combate que permite a ação conjunta de todos os recursos de
bordo: dos 3 helicópteros artilhados Kamov ao canhão duplo de 130 mm, dirigido
eletronicamente para objetivos situados a 22 km.
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