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Devido a
pendências judiciais, o avião foi penhorado e há nove anos está parado no
cemitério de aviões
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Avião é
acompanhado por tanque no aeroporto de Dubai: uma das várias paradas na odisseia
do sequestro
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O
governo alemão estuda como trazer de volta do Brasil o Boeing 737-200 que
operava o voo Lufthansa 181, sequestrado em 1977 em um dos capítulos mais
marcantes da história recente da Alemanha. A aeronave está no cemitério de
aviões do aeroporto de Fortaleza.
A
intenção é expor a aeronave num museu. A análise partiu de um pedido pessoal do
vice-chanceler federal e ministro do Exterior Sigmar Gabriel, que disse que o
"Landshut" – como é chamado o avião na Alemanha – é simbólico para a
memória de um tempo difícil e importante no país.
"Os
restos do Landshut estão no nordeste do Brasil e enferrujam sob o sol. Muitos,
não só no ministério, acreditam que ele mereça talvez um destino melhor, por
representar uma parte importante da história alemã", afirmou Martin Schäfer,
porta-voz do Ministério do Exterior.
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Em 14 de
outubro, segundo dia do sequestro, homem negocia com um dos sequestradores no
aeroporto de Dubai
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A
aeronave foi sequestrada, com mais de 90 pessoas a bordo, por quatro
integrantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina, que, para liberar
os reféns, pedia a soltura de membros da Fração do Exército Vermelho (RAF)
presos na Alemanha.
O
sequestro é um dos episódios mais marcantes do chamado Outono Alemão, período
entre setembro e outubro de 1977 em que as operações da RAF, organização
guerrilheira alemã de extrema esquerda, atingiram o auge do radicalismo.
Depois
do sequestro, a aeronave continuou transportando passageiros da Lufthansa até
ser vendida pela empresa alemã em 1985. O Landshut teve vários proprietários e
passou a levar cargas. Até 2008, ele voou pela TAF, de Fortaleza.
Devido
a pendências judiciais da empresa, o avião foi penhorado e há nove anos está
parado no cemitério de aviões da capital cearense.
O
sequestro
No
dia 13 de outubro, a aeronave partiu de Palma de Mallorca, na Espanha, com
destino ao aeroporto de Frankfurt. Ao entrar no espaço aéreo francês, os
extremistas, armados com pistolas e granadas, anunciaram o sequestro e deram
início à jornada de 106 horas que terminaria apenas na Somália.
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Aeronave
seguiu operando até ser vendida pela Lufthansa em 1985; hoje, está abandonada
em Fortaleza
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Para
libertar os passageiros, o grupo exigia que o governo alemão soltasse integrantes
da RAF presos na Alemanha. O governo alemão se recusou a libertá-los. Antes de
pousar em Mogadíscio, durante o sequestro, o avião fez paradas para reabastecer
em Roma, Lárnaca, Bahrein, Dubai e Áden.
Após
o assassinato do piloto em frente aos passageiros, no dia 16, o copiloto foi
obrigado a continuar sozinho a jornada. Na capital somali, forças especiais da
polícia federal da Alemanha conseguiram libertar a aeronave.
Três
dos quatros sequestradores foram mortos na ofensiva. Depois do fracasso da ação
terrorista, Andreas Baader, Jan-Carl Raspe e Gudrun Ensslin, membros destacados
da RAF, cometeram suicídio coletivo na prisão.
"A
libertação do Landshut representa um momento dramático na história da Alemanha.
A ofensiva de violência da RAF pode ser pela primeira vez interrompida graças a
circunstâncias afortunadas e a certa determinação do chanceler federal da época
e ao risco corrido pelas forças especiais de segurança", lembra o
cientista político Wolfgang Kraushaar.
Segundo
ele, a libertação pode ter sido a mais decisiva na luta contra o terrorismo na
época. O Outono Alemão foi marcado também pela intensificação das práticas de
controle do Estado e da presença policial no cotidiano da população, algo que
dividiu a sociedade.
Repatriação
não é unânime
A
volta do Landshut para a Alemanha, no entanto, divide especialistas. Kraushaar
é contra. Além dos custos envolvidos na repatriação e reforma da aeronave, o
cientista político destaca que o atual avião não se parece mais com o da época
do sequestro, assim, não faria sentido expor um objeto que perdeu sua
autenticidade ao longo dos anos.
O
cientista político Alexander Strassner tem uma opinião diferente e defende a
volta da aeronave. "O Landshut é uma relíquia viva histórica, resquício de
um capítulo dominante da história da Alemanha pós-guerra, seu valor simbólico
não é superestimado. Uma repatriação é apenas lógica", argumenta.
De
acordo com a Infraero, o futuro do Landshut depende de uma decisão judicial. A
estatal informou que os custos referentes ao "pouso e permanência do avião
estão sendo discutidos judicialmente".
Enquanto
a decisão brasileira não sai, o governo alemão avalia cidades que poderiam
receber em museus o histórico Landshut. Apesar de o ministério não ter
divulgado detalhes, jornais alemães listaram alguns dos possíveis interessados,
entre eles está a antiga capital Bonn e a cidade de Flensburg, no norte do
país.
DW
- Deutsche Welle
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