Eduardo
Hollanda
A
estrutura de um submarino é fabricada com aços especiais, o que lhe permite
resistir às pressões à medida que mergulha abaixo dos 300 metros, sua área
ideal de operações. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub),
projeto da Marinha do Brasil estratégico para o País, mostra ser tão resistente
quanto os monstros de aço que pretende colocar em operação nos próximos anos.
São
quatro submarinos convencionais, versões alongadas do francês Scorpène da DCNS,
um dos maiores projetistas e construtores de navios de guerra do mundo. Depois
de prontos será a vez da cereja do bolo, o enorme submarino movido a energia produzida
por um reator nuclear. Ele terá 100 metros de comprimento por dez de largura
enquanto o Scorpène tem pouco mais de 66 metros de comprimento por seis metros
de diâmetro e os brasileiros convencionais, quando prontos, terão 75 metros.
Não
foram poucos os problemas enfrentados na construção do parque industrial de
alta tecnologia e do estaleiro ultramoderno à prova de tsunamis. Primeiro foram
os drásticos cortes e o contingenciamento do Orçamento da União em 2015, o que
reduziu a verba à metade. Então veio a ameaça da Lava Jato. O parceiro
brasileiro da estatal francesa DCNS é a Odebrecht.
Segundo
o almirante de esquadra Gilberto Max Roffé Hirschfeld, responsável desde 2013
pela Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão
Nuclear (COGESN), órgão da Marinha que gerencia o Prosub, a Odebrecht havia
sido escolhida pela DCNS e pelo governo francês como a empresa nacional capaz
de receber e absorver toda a tecnologia a ser transferida ao Brasil, dentro do
acordo firmado em 2009 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas
Sarkozy.
O
almirante Max, um baiano (apesar do que seus sobrenomes poderiam indicar) de 67
anos, conta que, desde que as obras das unidades de montagem das seções dos
submarinos, do estaleiro e da base naval foram iniciadas em 2011, a Marinha
decidiu que tanto o andamento das obras quanto o seu custo deveriam passar por
um controle constante não apenas da Força Naval.
“Eu
tenho, aqui na sede da COGESN, no Arsenal de Marinha, no Rio, e principalmente
em Itaguaí, equipes de auditores do TCU (Tribunal de Contas da União) o tempo
todo, com total liberdade de atuação, e de diversos outros órgãos de
fiscalização e controle do governo. Chamei também para cá o Ibec (Instituto
Brasileiro de Engenharia de Custos) e a FGV (Fundação Getulio Vargas). Recebo
relatórios semanais e mensais que me garantem a lisura e eficiência de todas as
atividades. Qualquer problema é corrigido na hora”, comenta. Essas
providências, de acordo com o almirante, fizeram com que os problemas da
Odebrecht com a Lava Jato não interferissem no andamento das obras.
Além
disso, contribuiu, e muito, para que a Itaguaí Construções Navais (ICN) –
empresa formada pela Odebrecht e pelos franceses, com a Marinha tendo a golden
share
e o poder de veto – resistisse ao tsunami da Lava Jato a existência de um
contrato binacional que garante a parceria tecnológica e financeira entre
Brasil e França. O almirante Max explica que, apesar do corte de 2015, ocorrido
paradoxalmente durante o governo de Dilma Rousseff – que, junto com o
presidente Lula, é entusiasta do projeto estratégico para a defesa do Brasil –
, foi possível fazer uma realocação dos recursos disponíveis no PPA (Plano
Pluri-Anual), garantindo, por exemplo, perto de R$ 2 bilhões no ano passado e
mais R$ 2 bilhões este ano e em 2018. “Claro que tivemos que tomar algumas
decisões, como priorizar as obras do estaleiro e do cais onde foi instalado o
ship lift (um elevador de navios), tudo para garantir que, em julho do próximo
ano, o primeiro submarino, o S-BR 1, o Riachuelo, seja lançado ao mar”, comenta
o almirante.
Na
verdade, hoje, de todo o complexo implantado em Itaguaí – cidade de pouco mais
de 100 mil habitantes a menos de 100 quilômetros do Rio, usada como dormitório
por D.Pedro I, a caminho da proclamação da Independência –, 65% das obras
totais estão concluídas. Ficam faltando ainda a construção das instalações da
base naval, do estaleiro de manutenção do submarino nuclear (com todas as
exigências de proteção para esse tipo de equipamento) e o dique exclusivo para
ele.
No
estaleiro, além do prédio principal, onde as duas seções de cada submarino
(proa e popa) serão unidas, há previsão de conclusão até outubro do prédio de
ativação das baterias dos submarinos convencionais e do centro de instrução e
adestramento das futuras tripulações. “Sabemos que em julho de 2018 o Riachuelo
será lançado ao mar para passar por dois anos de testes de porto e de mar e
finalmente ser incorporado à esquadra. Claro que as tripulações terão que estar
mais do que bem adestradas antes disso”, ressalta.
Pelo
novo cronograma do almirante Max, agora em julho a seção da proa do Riachuelo
será transportada em uma carreta com capacidade de dez toneladas por metro
quadrado. Depois, será a vez da seção da popa. No prédio principal do
estaleiro, que, como os da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas
(Ufem), tem 110 metros de comprimento por 40 metros de altura e outro tanto de
largura, até dois submarinos S-BR poderão ser concluídos paralelamente, se
houver urgência.
Enquanto
isso, as duas metades do Humaitá, segundo na fila, serão avançadas dentro do
prédio e terminadas, abrindo espaço para o terceiro, o Tonelero, que já está
com a maior parte das seções fabricadas pela Nuclebrás Equipamentos Pesados
S.A. (Nuclep), chegar para o próximo estágio de construção. Deve ser lembrado
que, para suportar o peso dos submarinos, o piso de todas as instalações
industriais em Itaguaí, além do caminho que interliga a Ufem ao Estaleiro e
Base Naval (EBN), incluindo um túnel aberto na rocha, é de concreto de alta
resistência. Em suma, tem que aguentar dez toneladas por metro quadrado, sem
qualquer rebaixamento ou inclinação.
Sobre
o submarino nuclear, o SN-BR Almirante Álvaro Alberto (o nome homenageia o
oficial ferido na Revolta da Chibata, em 1910, professor da Escola Naval e um
dos maiores defensores da energia nuclear no Brasil), os engenheiros e técnicos
brasileiros que foram para a França em 2012, tanto para aprender a fabricar os
S-BR – tradicionais – quanto para projetar um submarino nuclear, concluíram o
projeto básico em janeiro deste ano, depois de comprovada sua exequibilidade.
Os próximos passos serão os detalhamentos técnicos e de construção. Ao mesmo
tempo, em Aramar, em São Paulo, seguem os trabalhos de montagem e preparação
para a entrada em testes do reator e de todos os sistemas de propulsão do
submarino nuclear.
Instalados
em três prédios, eles têm a mesma dimensão do que será colocado dentro do
submarino real, com seus dez metros de diâmetro. O domínio por parte da Marinha
de todo o ciclo de produção do combustível nuclear e da construção do reator
foi o ponto-chave que permitiu aos franceses repassar ao Brasil a tecnologia de
construção, antes privilégio de apenas seis países – Estados Unidos, Reino
Unido, França, Rússia, China e, o mais novo do clube, a Índia. Dentro desse
programa de capacitação, o grupo inicial de 32 engenheiros e técnicos da
Marinha já se expandiu para mais de 300 profissionais, comprovando que a
transferência não é apenas de tecnologia e técnicas de construção, mas
principalmente de conhecimento.
Brasileiros.com.br
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curto: http://brasileiros.com.br/hV4QS
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