O ataque das forças militares americanas contra a
Síria colocou sob ameaça as relações entre os Estados Unidos e a Rússia, que
trocaram duras acusações ao longo desta sexta-feira (07/04).
Durante a madrugada, navios de guerra americanos
situados no Mar Mediterrâneo dispararam uma série de mísseis contra a base
aérea de Shayrat, na cidade de Homs, em retaliação pelo suposto ataque químico
que deixou mais de 80 mortos nesta semana – os EUA atribuem a responsabilidade
desse ataque ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad, que tem o apoio de
Moscou no conflito.
A Rússia condenou o ataque americano – o primeiro
contra as forças de Assad em seis anos de guerra –, dizendo se tratar de
"uma agressão contra um Estado soberano em violação das leis
internacionais".
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, o
presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a justificativa do governo
americano para o ataque contra Shayrat se baseia num "pretexto
fabricado".
"A atitude de Washington representa um golpe
significativo nas relações Rússia-EUA, que já se encontravam em estado
deplorável", afirmou Peskov em comunicado, acrescentando que tal ofensiva
cria "graves obstáculos" para a cooperação bilateral na Síria contra
o "Estado Islâmico" (EI).
Cooperação contra terrorismo ameaçada
A mesma opinião foi expressada por uma série de
autoridades russas ao longo do dia. "Condenamos veementemente as ações
ilegítimas dos EUA. As consequências disso para a estabilidade regional e
internacional podem ser extremamente graves", disse Vladimir Safronkov, representante
de Moscou nas Nações Unidas, durante uma reunião do Conselho de Segurança da
ONU nesta sexta-feira.
O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, por sua
vez, afirmou que o ataque americano na Síria se trata de uma "dura
contradição com o direito internacional" e gerou uma "desconfiança
absoluta" por parte da Rússia. "Isso é realmente triste para as
nossas relações agora completamente arruinadas. E uma boa notícia para os
terroristas", escreveu o político em mensagem publicada em rede social.
Em resposta aos disparos, o governo russo, além de
anunciar planos para fortalecer a defesa aérea na Síria, decidiu interromper o
canal de comunicação que mantém com os EUA para tratar da guerra no país do
Oriente Médio. A linha foi criada em 2015, depois que a Rússia entrou
definitivamente no conflito, e é usada, por exemplo, para transmitir
informações sobre a localização de seus aviões.
Washington – que avisou Moscou previamente sobre o
ataque em Homs por meio desse canal – clamou para que o governo russo mantenha
aberta a linha de comunicação e afirmou que não vai deixar de usá-la. "[O
canal] é um benefício a todas as partes que operam no espaço aéreo sírio,
evitando acidentes e erros de cálculo. Esperamos que o Ministério de Defesa da
Rússia chegue a essa mesma conclusão", afirmou o major Adrian
Rankine-Galloway, porta-voz do Pentágono.
EUA "preparados para mais"
Em reunião de emergência do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, a embaixadora americana na organização, Nikki Haley,
defendeu a decisão tomada pelo presidente Donald Trump, afirmando que o governo
em Washington tinha "justificativas plenas" para realizar tal ataque.
Para os EUA, os caças que lançaram o ataque químico sobre Khan Cheikhoun
partiram da base aérea de Shayrat.
"Os Estados Unidos não vão mais esperar que
Assad use armas químicas sem qualquer consequência. Esses dias acabaram",
afirmou Hailey, acrescentando que seu país deu "um passo muito
planejado" na véspera e "está preparado para fazer mais".
"Esperamos que isso não seja necessário", disse ela.
O ataque americano, que polarizou opiniões entre a comunidade internacional, foi defendido pela Otan nesta sexta-feira. O secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança militar liderada pelos EUA já vinha "condenando consistentemente o uso contínuo de armas químicas pela Síria", classificando-o como "uma clara violação de normas e acordos internacionais".
Para Stoltenberg, a responsabilidade pelos disparos
contra a base aérea de Shayrat é unicamente do regime de Assad na Síria.
"Qualquer uso de armas químicas é inaceitável e não pode ficar sem
resposta. Os responsáveis precisam ser responsabilizados", declarou o
chefe da Otan.
Desde terça-feira, o governo sírio e seus aliados
vêm negando qualquer participação no suposto ataque químico em Khan Cheikhoun.
O Ministério da Defesa russo chegou a responsabilizar a oposição de Assad pela
tragédia, afirmando que os agentes tóxicos foram liberados quando um ataque
aéreo atingiu um arsenal de armas químicas e uma fábrica de munições que seriam
dos rebeldes.
DW - Deutsche Welle
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