A situação na Península da Coreia
está tensa. O governo do presidente Donald Trump disse que a política de "paciência
estratégica" em relação à Coreia do Norte, seguida pelo antecessor Barack
Obama, chegou ao fim. O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou
durante visita à Coreia do Sul que a opção militar está em aberto. Em maio, os
Estados Unidos impuseram novas e mais severas sanções a Pyongyang.
A China, considerada a única aliada da Coreia do Norte, insiste numa solução diplomática para o conflito, mas também elevou a pressão sobre Pyongyang, suspendendo as importações de carvão da Coreia do Norte, uma importante fonte de divisas para o país. Articulistas do jornal nacionalista Global Times acusam a Coreia do Norte de desestabilizar a península, exortando o país a interromper seu programa nuclear.
Mas a Coreia do Norte parece não
se deixar impressionar. O regime já testou cinco mísseis em 2017, violando
resoluções da ONU. Especialistas observaram um aumento das atividades em
Punggye Ri, área de testes nucleares. Outro teste nuclear pode ser iminente. Em
declarações através da mídia estatal, a Coreia do Norte afirmou estar preparada
para uma "guerra total" a qualquer momento.
Guerra congelada
Dois dos maiores exércitos do mundo se encontram frente a frente na Península da Coreia desde a Guerra da Coreia – que foi congelada em 1953, com uma trégua, mas nunca terminou oficialmente. Segundo um índice produzido pela organização independente Bonn International Center for Conversion (BICC), a Coreia do Sul está entre as nações mais militarizadas do mundo, ocupando o sexto lugar no ranking mais recente, de 2016. A Coreia do Norte não consta da lista por causa da escassez de informações, mas é presumível que também tenha um elevado grau de militarização. "Isso é óbvio quando pensamos que 1,2 milhão de pessoas servem às Forças Armadas num país de 24 milhões de habitantes", afirma Marius Bales, do BICC.
Por trás das duas Coreias estão
seus respectivos aliados, que também são rivais: no lado da Coreia do Norte, a
República Popular da China; no lado da Coreia do Sul, os Estados Unidos. A
relação da Coreia do Sul com os EUA foi estabelecida em 1953 por uma aliança
militar. Em 1961, a Coreia do Norte assinou com a China e a Rússia um tratado
de amizade que incluiu ajuda militar e econômica. A Rússia rescindiu o pacto de
assistência militar, mas ele continua em vigor com a China. O Japão, que também
se sente ameaçado pela Coreia do Norte, tem um papel especial. Embora o país
seja aliado próximo dos EUA, seu relacionamento com a Coreia do Sul é afetado
pelo passado colonial e pela Segunda Guerra Mundial.
Potencial militar
Uma maneira de descrever o
equilíbrio militar na região é elaborar uma lista numérica das respectivas
Forças Armadas. No entanto, esse método apresenta algumas dificuldades.
Em primeiro lugar, as
estatísticas devem ser consideradas com certo cuidado. A publicação anual
Military Balance, do think thank britânico Instituto Internacional de Estudos
Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), tem um certo monopólio sobre essa
informação. Embora existam outras fontes para forças militares, como o Instituto
de Estudos da Paz em Estocolmo (Sipri), apenas o Military Balance documenta tão
amplamente os armamentos e o setor militar. Os números são baseados,
parcialmente, em informações oficiais dos Estados, que os fornecem ao registro
de armas da ONU ou à Organização para a Cooperação Internacional (OSCE).
Além disso também são considerados relatórios de exportação de armas. No entanto, o IISS não cita todas as fontes nem define um único método. Por isso não é possível saber como são apurados os números de países como a Coreia do Norte, que não publica dados oficiais. Mas não há alternativas, segundo Bales, do BICC, "a Military Balance é a melhor e também a única fonte na área", diz.
Além disso também são considerados relatórios de exportação de armas. No entanto, o IISS não cita todas as fontes nem define um único método. Por isso não é possível saber como são apurados os números de países como a Coreia do Norte, que não publica dados oficiais. Mas não há alternativas, segundo Bales, do BICC, "a Military Balance é a melhor e também a única fonte na área", diz.
"Mas os números representam
apenas a quantidade, o que não quer dizer nada sobre a qualidade das
armas", pondera Bales. Um tanque soviético T-62 do Exército norte-coreano,
modelo do final dos anos 60, e um K2 Black Panther sul-coreano, de 2013, não
podem ser comparados. E também a ideia de que é possível dispor soldados contra
soldados e tanques contra tanques, como no século 19 ou no início do século 20,
é obsoleta. "Os recursos de guerra e os armamentos modernos não permitem
mais isso", sublinha o especialista. Tanques enfrentam tanques, mas também
drones, helicópteros e aviões.
Os números também não mostram
quantos recursos estão disponíveis para utilizar as armas. A Coreia do Norte
sofre notoriamente com a falta de combustível, o que pode reduzir os voos de
treinamento. "No caso da Coreia do Norte, o tamanho das Forças Armadas
contrasta com a sua qualidade. Em especial a Força Aérea está defasada. Os
jatos mais modernos são dos anos 80", ressalta Bales. Já a Coreia do Sul
dispõe dos mais modernos sistemas bélicos graças aos EUA e à Alemanha.
Máquina de guerra dos EUA
Mas os números mostram quais são
os pontos fortes das respectivas Forças Armadas. Enquanto a Marinha e a Força
Aérea são o forte do Japão, o Exército é a arma mais numerosa em ambas as
Coreias. O número relativamente elevado de tanques e artilharia pesada da
Coreia do Norte e da Coreia do Sul mostram que os seus exércitos se destinam a
grandes batalhas e a defender as fronteiras. O grande número de submarinos
norte-coreanos pode ser atribuído ao seu elevado potencial de dissuasão. E os
números também mostram, é claro, a determinação de um país em se defender.
No entanto, tudo isso pode ser
posto de lado se a poderosa máquina de guerra dos EUA intervir num possível
conflito. Um olhar sobre as forças estratégicas de mísseis, responsáveis tanto
pelos mísseis de longo alcance como pelo armamento nuclear, deixa isso muito
claro. A China e os EUA dispõem dessas unidades, ao contrário da Coreia do Sul
e do Japão. A Coreia do Norte quer tê-las, mas encontra grandes problemas para
desenvolver mísseis de longo alcance confiáveis. A vantagem militar e
tecnológica dos EUA é tão grande que a Coreia do Norte teria poucas chances.
"Apesar de todas as
considerações técnicas, não devemos esquecer da vulnerabilidade mútua das
Coreias do Norte e do Sul", diz Bale. Cerca de 70% das forças terrestres
norte-coreanas estão estacionadas na fronteira, e Seul fica a apenas 50
quilômetros da fronteira. "Mesmo com tecnologia ultrapassada é possível
executar um ataque devastador sobre a Coreia do Sul com o grande número de tanques,
artilharia e veículos de transporte de tropas."
DW - Deutsche Welle
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