O
governo brasileiro informou que dificilmente enviará tropas para a Síria,
conforme a Rússia aventou, porque só participa de missões de paz sob a égide do
Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). E não há
indicação de que tal mandato ocorrerá agora, até porque dependeria da aprovação
de rivais de Moscou no conselho: EUA, França e Reino Unido.
"Nada
foi pedido oficialmente ao Brasil. Provavelmente nada será pedido, porque todos
sabem que o Brasil só participa de missões do Conselho de Segurança",
disse o ministro Raul Jungmann (Defesa). Ele esteve na semana passada em
Moscou, participando de um seminário e encontros com autoridades, e afirma que
nada disso foi discutido.
Moscou,
que interveio na guerra civil síria em 2015 e conseguiu evitar a queda do
regime aliado do ditador Bashar al-Assad, propôs a criação de quatro zonas de
segurança no território do país árabe.
Segundo
informou o Kremlin, as zonas poderão garantir a assistência a populações civis
e ajudarão a "de-escalar" o conflito que já matou mais de 300 mil
pessoas desde 2011. Mas o governo russo também disse que os locais configurarão
zonas de exclusão aérea para aeronaves ocidentais envolvidas em ataques ao
grupo terrorista Estado Islâmico, que domina uma boa porção da Síria.
A
Rússia afirma que tal plano, que gerou perplexidade entre comentaristas
ocidentais, teve o aval do governo de Donald Trump.
O
Brasil entrou na discussão como um elemento de distração. Para evitar
resistências do Ocidente à proposta, costurada em conjunto com o Irã e a
Turquia e apresentada na quarta (4), o governo de Vladimir Putin disse que a
segurança nos locais poderia ser feita por países emergentes como o Brasil e a
Índia, parceiras de Moscou no bloco Brics, e um país árabe como o Egito —cujo
regime vem se aproximando dos russos.
O
temor ocidental é de que, na prática, as regiões sob tutela internacional se
tornem protetorados da Rússia e das duas potências locais. A situação se
complica ainda mais porque o Irã ainda é visto como um regime suspeito pelo
Ocidente e adversário pelos aliados árabes do Golfo Pérsico, e a Turquia é
membro da Otan (aliança militar do Ocidente), mas vem cada vez mais se
distanciando da Europa e dos EUA.
Prova
disso foi o avanço nas negociações, por parte de Ancara, para a compra de
sistemas de defesa aérea S-400 da Rússia. Para poder operar as baterias de
mísseis e ter acesso à sua tecnologia, os turcos deverão retirar esse elemento
do sistema integrado de defesa da Otan, que utiliza equipamentos e
códigos-fontes de software comuns aos outros membros da aliança.
Ou
seja, a Turquia teria uma defesa própria, não interligada à dos parceiros
ocidentais. A exemplo do que fez a França durante boa parte de sua história de
relação com a Otan, o governo de Racip Erdogan buscaria uma posição de
independência. De quebra, se aproximaria dos rivais número um da Europa, os
russos.
O
governo brasileiro já se colocou à disposição para liderar uma missão de paz da
ONU quando acabar seu mandato no Haiti, no fim deste ano. Até aqui, contudo, o
Líbano ou algum país da África Ocidental com presença de tropas internacionais
eram os destinos mais cotados.
Folha
de S.Paulo
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