Na base naval de Karlskrona, a maior
da Suécia e uma das mais antigas do mundo, criada em 1622, duas corvetas estão
atracadas ao lado de outras embarcações militares, à espera de decisão do
Brasil se faz a aquisição delas ou não. Trata-se da mais recente oferta da
Saab, o grupo sueco de defesa e segurança, para ampliar os negócios militares
com o país.
Depois de ter obtido o contrato de
US$ 5,4 bilhões para produzir e equipar 36 aviões de combate Gripen para a
Força Aérea Brasileira (FAB), a Saab vê agora oportunidade de replicar o mesmo
modelo de negócio com a Marinha brasileira, com potencial de venda de quatro a
vinte embarcações militares nos próximos anos.
"É igualzinho ao modelo do
Gripen, para por em marcha a produção no Brasil da próxima geração de navios
caça-minas, com transferência de tecnologia de ponta, material compósito para o
Brasil", disse o presidente de Saab Kochums, Gunnar Wieslander, em
entrevista ao Valor no estaleiro localizado ao lado da maior base naval sueca.
Controlado pela Investor, o braço
financeiro da bilionária família Wallenerg, a Saab produz desde aviões de
combate, navios, radar, sondas, sistemas de defesa a até submarino. Conta com
forte apoio do governo sueco, seu maior cliente, em nome da manutenção de uma
indústria nacional de armamento nesse pequeno país não-membro da Otan, a
aliança militar ocidental.
Em 2014, Saab comprou o estaleiro
naval Kochums, controlado por alemães, por US$ 50 milhões, com a ambição
declarada de criar uma indústria naval de classe mundial. Os investimentos
nesse segmento tem sido enormes, inclusive para a produção de dois submarinos
da nova geração, o A26. E o interesse por aproximação com o Brasil agora na
área naval é considerada da maior importância.
Gunnar Wieslander menciona um par de
projetos para o Brasil. Primeiro, é a venda dos dois navios caça-minas da
classe Landsort, que podem ser totalmente renovados com o que há mais de mais
moderno em termos de radar, sondas etc. Segundo, a partir do terceiro navio
começaria a produção no Brasil da nova geração de embarcações militares, com
transferência de tecnologia para empresas brasileiras.
"Vou ao Brasil pelo menos uma
vez a cada três meses falar disso no Rio de Janeiro e em Brasília", conta
o executivo. "Não aspiramos produzir a nova geração de porta-aviões e
chegamos tarde no Brasil para submarinos. Mas em corvetas, que é o animal de
trabalho e vai ter papel cada vez mais importante, gostaríamos de ter um papel
forte no Brasil."
O presidente de Saab Kochums vê
muitas sinergias entre as necessidades brasileiras e as suecas, "de forma
que podemos fazer inclusive uma corveta juntos". Diz que a corveta
brasileira precisa ser maior que a corveta sueca devido às características
geoestratégicas. As suecas operam no Báltico com ondas de 3 a 4 metros,
enquanto no Atlântico as ondas chegam a 10 metros.
Saab diz que pode fazer adaptações
sem problemas. Acena com o modelo acertado com a Índia, para produção de
embarcação como casco maior, mesmo híbrido (de aço e material compósito),
enquanto o "cérebro", que são as armas, o sistema de combate etc, é o
mesmo.
A futura renovação de equipamentos da
Marinha brasileira provoca uma forte concorrência internacional, com
participação de grupos também da Alemanha, França, Reino Unido, Coreia do Sul,
Cingapura e China, por exemplo.
De seu lado, a Saab aposta no caminho
aberto pelo contrato do Gripen. Isso inclui um generoso pacote de financiamento
para a Marinha brasileira fazer as aquisições, com taxas de juros baixas. O
executivo evita falar em valores de encomendas, alegando que tudo depende do
que o cliente quer instalar no navio.
Além disso, argumenta que o
importante, quando se faz aquisição de novas embarcações e de novos sistemas de
defesa, é comprar algo que seja suficientemente bom para realmente ser
utilizado. "Se a manutenção for muito cara, a embarcação fica parte boa do
tempo no porto", diz.
A Saab acena com cooperação também
para produção de fragatas, usando a tradicional experiência sueca na área
naval. A construção naval é antiga no país, incluindo há décadas os submarinos,
para enfrentar os "oponentes" no turbulento mar Báltico, onde cada
dia há movimento de 2 mil a 3 mil navios e ainda um estoque de 50 mil minas dos
tempos da segunda guerra mundial.
Do "backlog" do grupo Saab como um todo, de cerca de US$ 11 bilhões, o Brasil representa a maior fatia com a encomenda do jatos de combate Gripen.
Sobre investigações na justiça brasileira envolvendo a aquisição dos aparelhos, com suspeita de propinas a membros do PT, Lars Nystroem, gerente do Programa Gripen Brasil, afirma: "Temos regras estritas de ética e compliance inclusive para nossos consultores. Não temos nenhuma preocupação sobre isso [no Brasil]. Já respondemos questões à Justiça e vamos continuar a responder, se necessário".
Ele relata que o próximo passo no projeto do Gripen no Brasil será o desenvolvimento do visor panorâmico (WAD), com o primeiro modelo real que será testado no simulador e será instalado no aparelho em 2019. O primeiro avião brasileiro deve ter sua montagem final em 2018 e fazer seu primeiro voo em 2019.
O grupo sueco planeja aumentar participação na Akaer, um dos parceiros estratégicos brasileiros. A companhia brasileira foi contratada pela Saab para desenvolver partes da fuselagem mesmo antes da negociação do Gripen para a FAB. O investimento da Saab na Akaer começou em maio de 2012, com a conversão de empréstimo em ações. No começo deste ano, o grupo sueco aumentou sua participação de 15% para 25% na empresa. "A Akaer é um parceiro muito bom que logo vai atingir 500 mil horas dedicadas ao programa Gripen no Brasil", diz Nystroem.
Além disso, a Saab deve colocar a Saab Aeronáutica Montagem (SAB) em operação no primeiro semestre de 2018, em São Bernardo do Campo, com um parceiro minoritário. A fábrica da SAB quer montar uma rede de fornecedores no país.
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