ORDEM DO DIA N° 1/2017
Assunto: 195º Aniversário da Esquadra
A importância histórica do mar e da Marinha para o Brasil começou antes
mesmo da viagem do descobrimento, em virtude do surgimento de uma lenda celta
que falava sobre a existência de uma ilha mágica, localizada no centro do
oceano Atlântico, chamada “Brazil”. A propagação da crença a respeito dessa
“Terra Abençoada” entre os exploradores europeus da época, além de impulsionar
os portugueses às viagens marítimas, pode ter sido a origem do nome de nosso
País.
O mar e os rios foram inicialmente a via do descobrimento, da ligação
entre as primeiras cidades fundadas ao longo da costa, da defesa contra os
invasores estrangeiros e da expansão das nossas fronteiras sul e oeste. Foi,
portanto, dando continuidade a três séculos de decisiva atuação da Marinha no
processo de formação de nosso País, operando desde a bacia Amazônica até o
estuário do Prata e o Pantanal Matogrossense, que, em 10 de novembro de 1822,
por ocasião da expulsão da Forças Navais Portuguesas, o Pavilhão Nacional foi
pela primeira vez içado em um navio de guerra brasileiro - a Nau “Martim de
Freitas” -, nosso primeiro Capitânia, posteriormente rebatizada como “Dom Pedro
I”.
Para que esse momento acontecesse, foram essenciais a visão estratégica
do Imperador e de seu Ministro do Interior e dos Negócios Estrangeiros, José
Bonifácio de Andrada e Silva, sobre a importância da Armada para a
sobrevivência e o desenvolvimento do Brasil, e a mentalidade marítima então
existente em nosso povo, o qual, através de uma subscrição popular, contribuiu
com recursos para a formação da Marinha.
Com o mar e os rios também sendo a principal via para a consolidação da
independência e para a manutenção da integridade territorial, a Armada Imperial
teve que assumir o protagonismo em nossas águas desde o nascimento da Nação,
provando estar pronta para defender os interesses nacionais. Contudo, longa e
gradual fora a travessia até o momento em que os marinheiros brasileiros
viessem a assumir o controle do mar, correspondendo ao voto de confiança de
nossa população. Entre os muitos exemplos de bravura registrados desde cedo em
nossa história, cabe mencionar um feito importante: em 19 de novembro de 1614,
durante a Batalha de Guaxenduba, travada no litoral do Maranhão, Jerônimo de
Albuquerque veio a se tornar o primeiro brasileiro nato a comandar uma Força
Naval, contribuindo para a expulsão dos invasores franceses e abrindo o caminho
para a conquista do Amazonas.
Os nossos antecessores sempre responderam ao chamado do dever com
coragem, espírito de sacrifício e vigor, o que contribuiu para moldar o caráter
de gerações de marinheiros e para firmar a Esquadra Brasileira como força
combatente. São deles - Almirantes Tamandaré, Patrono da Marinha e herói da
Pátria; Barroso, Comandante em Chefe da Esquadra, durante a Guerra da Tríplice
Aliança; Frontin, Comandante da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG);
Soares Dutra, Comandante da Força Naval do Nordeste; e Ary Parreiras, Patrono
dos Maquinistas; e muitos outros heróis anônimos - os exemplos de patriotismo e
profissionalismo que ainda hoje nos inspiram a superar os óbices encontrados
para o preparo dos meios navais e aeronavais, de forma a perseguir a capacidade
do Poder Naval em cumprir suas tarefas.
Não há de ser exagero afirmar que a Marinha do Brasil nasceu como
guardiã da integridade territorial, durante a Guerra da Independência e as
campanhas do Império; e cresceu protegendo o litoral e o nosso Comércio
Marítimo, participando de duas Guerras Mundiais; enfrentando dificuldades de
toda ordem, sem dúvida, mas desde sempre buscando materializar nossa vocação
marítima.
Atualmente, para ampliar a presença e a vigilância sobre áreas cada vez
mais afastadas de nosso litoral, a Esquadra conta com a elevada prioridade
atribuída pela Alta Administração Naval, tanto no atendimento de necessidades
materiais, quanto para o pleno guarnecimento de pessoal, qualitativo e
quantitativo, das unidades operativas.
No campo material, as ações em andamento, tais como a implementação de
uma nova sistemática de Empreendimento Modular, pela Diretoria-Geral do
Material da Marinha, para a condução dos Períodos de Manutenção Geral (PMG) no
menor prazo possível, estão proporcionando visíveis resultados. Nesse sentido,
entre as importantes conquistas de 2017, merecem destaque: o progresso na
preparação de sistemas da Corveta “JULIO DE NORONHA”, da Fragata “DEFENSORA” e
do Navio de Desembarque de Carros de Combate “MATTOSO MAIA”; e o avanço
simultâneo dos Períodos de Manutenção dos Submarinos “TIKUNA” e “TAMOIO
Ao mesmo tempo, o profissionalismo e o comprometimento de nosso pessoal,
com uma maior sinergia entre os Setores Operativo, do Material, do
Abastecimento e da Ciência e Tecnologia, têm permitido incrementar o
aprestamento dos nossos meios de superfície e aeronavais mais antigos, por meio
da manutenção preventiva e corretiva de diferentes sistemas, com destaque para
os dos escoltas e dos helicópteros, estes, fundamentais para o desempenho de
diversas atividades no mar, para a formação de nossos aviadores navais e para o
apoio ao Programa Antártico Brasileiro.
Ademais, em prosseguimento aos programas de obtenção e modernização de
meios aeronavais, foram recebidos dois helicópteros UH-15A SUPER COUGAR,
capacitados para operações especiais, e estão prestes a serem entregues
modernizados dois helicópteros AH-11B SUPER LYNX e duas aeronaves AF-1
(monoplace)/AF-1A (biplace) SKYHAWK.
Cabe, também, registrar o investimento efetuado em nossas Organizações
Militares de terra: o Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão
inaugurou a terceira geração do Sistema de Simulação Tática Multitarefa
(SSTT-3), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Marinha, o que vai
contribuir para o adestramento em terra e para a preparação de operações pelos
Comandos das duas Divisões da Esquadra; a nova Unidade Médica da Esquadra teve suas
instalações modernizadas e está recebendo mais especialistas; e o Centro de
Manutenção de Embarcações Miúdas, cujo apoio não se limita ao Setor Operativo,
está iniciando as medições e os projetos preparatórios para a construção de
suas novas instalações.
O resultado desse esforço pode ser verdadeiramente dimensionado pelo
incremento do nível de adestramento das tripulações, obtido pela
disponibilização dos meios para o cumprimento das diversas tarefas atribuídas à
Esquadra, seja realizando a Viagem de Instrução de Guardas-Marinha; efetuando
tiro real com canhões, mísseis, torpedos e bombas, por navios, submarinos e
aeronaves; participando de operações de paz, como capitânia da Força Tarefa
Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FTM-UNIFIL);
representando o Brasil nas comemorações alusivas ao bicentenário da Armada da
República Oriental do Uruguai (AROU) e ao centenário da I Guerra Mundial, na
França, devido à nossa participação naquele conflito; demonstrando nossas
habilidades marinheiras, na regata Tall Ships Race, no Mar Báltico; recuperando
a capacidade de reabastecimento simultâneo no mar; realizando operações de
busca e salvamento muito além de nossas fronteiras marítimas, o que valeu o
recebimento de um prêmio internacional; capacitando o Navio Doca Multipropósito
“BAHIA” e pilotos para operações aéreas noturnas; contribuindo para a expansão
da capacidade expedicionária; operando com vinte e oito (28) marinhas
estrangeiras amigas, em nossas águas jurisdicionais e no exterior; ou protegendo
e vigiando a Amazônia Azul, em exercícios de grau crescente de dificuldade,
como ASPIRANTEX, ADEREX, INCURSEX OPESP, SINAL VERMELHO e DRAGÃO, entre outras.
Para que isso se tornasse possível, releva destacar o profissionalismo,
a dedicação e o entusiasmo dos Comandos de Força, das Divisões e dos
Esquadrões; das bases; dos centros de instrução, de apoio e de manutenção; e da
unidade médica, na busca contínua pela racionalição do emprego dos recursos
disponíveis e pelo seu aprimoramento na elevação do aprestamento de nossos
navios, submarinos e aeronaves, com o objetivo de manter uma Força Naval pronta
a explorar as suas características de versatilidade, flexibilidade, mobilidade
e permanência. Somente assim, o Poder Naval estará em condições de cumprir as
suas tarefas básicas - negação do uso do mar, controle de áreas marítimas,
projeção de poder sobre terra e contribuição para a dissuasão -, na defesa dos
interesses nacionais no mar, considerando a cada vez maior inserção
político-estratégica de nosso País no cenário internacional.
Nesta data, gostaria de agradecer aos insignes chefes navais, nossos
ex-Comandantes em Chefe, que nos transferiram a manobra em rumo seguro e que
nos honram com suas presenças, pelo precioso patrimônio que legaram à Marinha e
à Nação: os ensinamentos, os exemplos, a invicta Esquadra Brasileira e a
Amazônia Azul.
Marinheiros e Servidores Civis da Esquadra, no momento em que
reverenciamos as gerações que nos antecederam e as conquistas alcançadas,
expresso a confiança: no reconhecimento, pelo Governo Federal, da necessidade
de reaparelhamento da Marinha, de forma a que o Poder Naval possa contar com
meios modernos, em condições de pronto emprego e de continuar a inspirar
credibilidade; e, acima de tudo, na nossa capacidade de, unidos pela crença na
Marinha e no Brasil, continuarmos a manter o rumo seguro e a prestar o serviço
vigoroso e silencioso para a superação dos desafios do presente, contribuindo,
assim, para que, em breve, os meios navais do exitoso Programa de Desenvolvimento
de Submarinos (PROSUB) e as futuras Corvetas Classe “Tamandaré” possam ser
guarnecidos por tripulações adestradas, motivadas e de reconhecida competência
profissional.
Parabéns, Esquadra Brasileira! Viva a Marinha!
NA ESQUADRA, A SOBERANIA DO NOSSO MAR!
ALIPIO JORGE RODRIGUES DA SILVA
Vice-Almirante
Comandante em Chefe
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