Isso
tornará a conversa ainda mais sensível politicamente, já que o governo
brasileiro diz que vetará a perda de controle nacional da empresa devido à sua
importância estratégica na área militar.
A
gigante americana não tem um formato fechado de oferta. Trará à mesa exemplos
de parceria na área militar que dão salvaguardas de soberania aos países.
No
Reino Unido, a Boeing abriu uma unidade de defesa em 2008 e emprega mil
pessoas. É listada com uma "contratada X", por obedecer a uma série
de requisitos de controle por parte do governo. Entre eles, ter sete altos
funcionários se reportando à pasta da Defesa, inclusive dois diretores
britânicos.
Na
mão inversa, a empresa de defesa britânica BAE Systems abriu uma unidade nos
EUA que obedece a critérios rígidos, para manter sigilo de informações
militares.
Na
Austrália, a Boeing tem sua maior operação externa, com 2.000 funcionários. Lá
ela também está sujeita a controle governamental de dados sensíveis.
A
especulação inicial de que a Boeing só estava interessada em adquirir a nova
linha de jatos regionais da Embraer, a exemplo do que sua rival europeia Airbus
havia feito em outubro com a canadense Bombardier.
A
aviação executiva, ponto forte em modelos pequenos e médios da Embraer, também
está na mira porque não é nicho da Boeing.
Ao
acenar com uma parceria maior, mesmo sem controle acionário da Embraer, terá de
convencer o governo de que decisões estratégicas brasileiras serão preservadas.
A
posição da Embraer é única justamente devido à sua área de defesa responsável
por quase 20% do faturamento da empresa (outros 20% na aviação executiva, o
resto em jatos regionais).
Desde
quando foi criada pelos militares em 1969, a Embraer tem relação umbilical com
a Força Aérea, sua principal cliente de defesa mesmo após a privatização de
1994. A empresa participa de projetos estratégicos para o país: programas
aeronáuticos militares sob demanda e, por meio de subsidiárias, desenha o
controle de fronteiras do Exército, parte do reator do futuro submarino nuclear
brasileiro e atua no mercado de satélites.
Assim,
a reação do presidente Michel Temer após o anúncio das negociações, em 21 de
dezembro, foi a de aprovar as conversas mas rejeitar qualquer perda de
controle.
Detentora
de uma "golden share", ação especial herdada na privatização, a União
pode vetar negócios. Quem quiser mais de 35% das ações, precisa de aval
federal. O que realmente preocupa o governo são as questões estratégicas e o
poder que o Congresso dos EUA terá sobre elas. É preciso, contudo, relativizar.
Primeiro,
a estrutura acionária da empresa é pulverizada, e seus maiores investidores são
estrangeiros.
Segundo,
na prática o contribuinte brasileiro paga pela exportação aos EUA de um produto
que gera renda a americanos. Cerca de 60% do valor de um avião regional da
Embraer vem de componentes americanos. O BNDES financiou, de 2001 a 2016, US$
14 bilhões em exportações de aviões montados no Brasil para os EUA. Se a
preocupação dos militares sobre eventuais vetos de exportações pelo Congresso
americano é legítima, não é inédita: a própria Embraer já teve venda à
Venezuela do Super Tucano, avião cheio de partes importadas, vedada pelos EUA.
A
inquietação se dá porque a área de defesa é celeiro de inovação na Embraer, com
especialização compartilhada com os militares e transbordo para tecnologias
civis.
AERONÁUTICA
Desenvolve
o KC-390, vende e dá suporte ao Super Tucano, moderniza AMX e F-5
DEFESA
DE FRONTEIRAS
Pela
subsidiária Savis, desenvolve o sistema de controle de fronteiras do Exército,
projeto de R$ 12 bi
ESPAÇO
Associada
à Telebras na subsidiária Visiona, investe em satélites de comunicação
SUBMARINO
NUCLEAR
Pela
subsidiária Atech, desenvolve o sistema de controle do reator nuclear para
submarino da Marinha
Folga
de S.Paulo
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