Maior
avião militar desenvolvido no Brasil, KC-390 se prepara para chegar aos
hangares da FAB
O
ano de 2018 promete trazer bons voos para a área operacional da FAB com a
entrega prevista do primeiro KC-390. A nova aeronave multimissão de transporte
da Força Aérea Brasileira já está 97% desenvolvida e, neste primeiro semestre,
encerra a fase de testes em voo e certificação. As duas primeiras unidades
estão confirmadas para serem entregues à Ala 2, em Anápolis (GO). Ao todo, 28
aeronaves adquiridas pelo governo brasileiro irão compor a frota da aviação de
transporte da FAB.
Robusto,
moderno e de alta capacidade operacional, o KC-390 se materializou a partir do
conceito e ideias de pilotos e engenheiros da FAB que ansiavam por demandas
acima das cumpridas pelo C-130 Hércules. A maior aeronave militar desenvolvida
e fabricada no Brasil não tem deixado a desejar e tem cumprido com êxito uma
intensa campanha de testes que validam toda a sua capacidade em diversos
cenários.
Fabricado
pela Embraer Defesa & Segurança, dois protótipos do KC-390 já somam
aproximadamente 1.500 horas de voo e mais de 40.000 horas de testes em
laboratório dos diversos sistemas da aeronave, garantindo uma alta
disponibilidade nos testes de certificação, etapa essencial para dar
continuidade à linha de montagem. Para se apresentar ao público como uma das
mais modernas propostas da categoria, uma dessas aeronaves já fez escala,
inclusive, na maior feira de aviação, em Le Bourget (França).
Para
fechar 2017, no mês de dezembro, foi atingida a capacidade inicial de operação
(Initial Operational Capability – IOC), fase fundamental para dar início à
operacionalidade do tão esperado avião militar e que está em conformidade com o
escopo da FAB. A fabricante também obteve um certificado de tipo provisório do
KC-390 junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), atestando a adequação
do projeto aos exigentes requisitos de certificação de aeronaves da categoria
Transporte.
Dos
protótipos à operacionalidade
Do
calor ao frio, os protótipos do KC-390 têm de passar por cenários variados e
enfrentar diversas temperaturas para garantir a adaptação e o desempenho em
qualquer região do mundo. Já foram realizados testes no gelo artificial, nos
Estados Unidos. Em um segundo estágio, ainda nos primeiros meses de 2018, serão
realizadas operações em ambiente com gelo e neve. O avião ainda precisa atender
aos requisitos da FAB de operar na Antártida, que reúne condições climáticas
adversas e submete a aeronave a situações extremas de operação. No calor, o
jato também foi aprovado: o avião esteve nos Emirados Árabes e na Arábia
Saudita, quando operou em temperaturas ambiente de 45 graus e 49 graus Celsius
respectivamente.
A
conclusão do processo de certificação será realizado em duas etapas; uma delas
estabelece a homologação do KC-390 no âmbito da aviação civil, que já foi
conquistado na IOC. A certificação final da ANAC e o atingimento da IOC
contemplam itens básicos da missão militar como características fundamentais
para o voo, atestando segurança, qualidade de voo, possibilidade de
reabastecimento em voo, transporte de cargas e lançamento. A outra etapa prevê
a integração de todos os sistemas da missão militar, que se inicia a partir da
entrega do KC-390 para a Força Aérea este ano.
Segundo
o Coronel Samir Mustafá, gerente do Programa na Comissão Coordenadora do
Programa Aeronave de Combate (COPAC), os terceiro e quarto protótipos já fazem
parte da linha de montagem do KC-390 e serão entregues à Força Aérea em junho
deste ano. Participar das duas etapas (ensaios e linha de montagem) garante
também que a linha de produção seja certificada. “As duas unidades vão ser
entregues com capacidade inicial, com condições de cumprir variadas missões,
como transporte aerologístico, lançamento de fardos e paraquedistas – tanto
pela rampa quanto pela porta, entre outras”, acrescenta.
Ainda
de acordo com o Coronel, é preciso deixar claro que, baseada na configuração
inicial que o KC-390 chega à FAB, a segunda etapa de certificação vai validar a
operacionalidade da aeronave em missões militares e deve decorrer pelos
próximos dois anos. Estão previstas certificações complementares de
reabastecimento em voo (REVO), operação de sistemas de guerra eletrônica e
lançamento de cargas pesadas. Com essas etapas finalizadas, o KC-390 vai
atingir a Capacidade Final de Operação (Final Operational Capability – FOC),
estando disponível para atender às demandas dos mais variados operadores civis
e militares.
O
diferencial
O
KC-390 tem como proposta ser um novo padrão de aeronave dentro dos requisitos
da categoria. A diversidade de missões realizadas pela aeronave brasileira, como
transporte de cargas, tropa, paraquedistas, reabastecimento aéreo, apoio a
missões humanitárias, combate a incêndios, busca e salvamento e evacuação
aeromédica, chama a atenção pela amplitude de atuação.
Com
capacidade de transportar até 26 toneladas, numa velocidade máxima de 870 km/h,
o jato redefine o modelo de operação de uma aeronave de transporte em ambientes
diversos, pistas não preparadas e com uma autonomia invejável.
E
por falar em autonomia, o REVO é uma das características de destaque desta
aeronave multimissão. Com os equipamentos instalados, o KC-390 consegue
realizar até duas operações de reabastecimento em voo, simultaneamente,
garantindo uma maior operacionalidade em aeronaves dentro de um pacote de
missões.
Prevista
para 2018, a fase final de testes de REVO deve acontecer no Rio de Janeiro
(RJ). O KC-390, que em 2016 realizou apenas o contato seco com o caça F-5,
agora vai finalizar o protocolo de testes e abastecer o A-1 durante os voos de
ensaios. Um dos futuros clientes para ser reabastecido em voo é o novo caça
F-39 Gripen, adquirido também pelo governo brasileiro e previsto para chegar em
2021. O H-36 Caracal é o helicóptero da aviação de asas rotativas da FAB que
também será reabastecido pelo jato.
O
fato inédito fica por conta da nova aeronave de transporte ser reabastecida por
outras aeronaves de transporte. Com a possibilidade de transportar até 23,2
toneladas de combustível, o KC-390 está pronto para receber combustível de
aeronaves abastecedoras, como o KC-130 Hércules ou até mesmo de outro KC-390.
A
autonomia do KC-390 é um fator atraente. Saindo de Manaus (AM), com 26
toneladas de carga a bordo, o KC-390 consegue chegar até Brasília (DF) ou Lima
(Peru), uma distância de aproximadamente 2.100 km. Se a carga for de 14
toneladas, por exemplo, a aeronave consegue decolar da capital amazonense e ir
até Washington, D.C., capital federal dos Estados Unidos. Sem precisar
abastecer, o alcance sobe para cerca de 5 mil km. Saindo da mesma origem, sem
transportar nenhum tipo de carga (Ferry Flight) e utilizando os tanques
auxiliares, o cargueiro tem autonomia de 8.500 km, com capacidade de
combustível para cruzar o Atlântico e chegar à capital da França, Paris, ou
Dublin, na Irlanda.
A
vantagem da autonomia também colabora, e muito, nas missões de busca e
salvamento, uma das capacidades em que a na aeronave poderá ser empregada. Tudo
isso porque a FAB possui uma responsabilidade de controlar e realizar missões
como essa numa área equivalente a 22 milhões de km2, que abrange desde a região
costeira do Atlântico, quase atingindo o continente africano. Somado a um radar
de última geração, o KC-390 poderá localizar embarcações naufragadas com
possibilidade de acompanhar alvos e fazer o rastreio de mais de 200 pontos
simultaneamente.
Outro
diferencial do jato foram as parcerias estratégicas firmadas. Acordos
bilaterais garantiram o desenvolvimento do KC-390 com a colaboração de países
como Portugal, República Tcheca e Argentina, que avançaram nas negociações desde
o início e contribuíram no intercâmbio de tecnologias.
Mercado
É
um mercado em potencial que foi estudado e explorado pela indústria aeronáutica
brasileira e que pode trazer muitos benefícios ao País. A cota de mercado
(market share) estimada é de aproximadamente 300 aeronaves exportadas nos
próximos 20 anos, o que pode representar uma injeção de até U$ 20 bilhões de
dólares na economia.
Como
se trata de propriedade intelectual desenvolvida no Brasil, a cada jato vendido
pela Embraer, o Governo Brasileiro vai ter um retorno financeiro que pode ser
novamente enxertado na economia. A expectativa é de que R$ 2,34 bilhões de
royalties sejam gerados e R$2,40 bilhões em impostos acumulados.
“Esperamos
que essa aeronave tenha sucesso comercial digno do esforço que foi feito para
desenvolvê-la. Em termos de produto, ela é uma aeronave que supera a
expectativa de qualquer cliente. Isso foi constatado nas nossas viagens de
demonstração da aeronave tanto em 2016 quanto em 2017, quando todos os
potenciais clientes da aeronave se encantaram com suas capacidades e se
surpreenderam positivamente”, acrescenta o Coronel Samir.
A
janela de oportunidades inclui também a geração de empregos diretos e
indiretos. Durante o desenvolvimento do KC-390, que começou em 2009, a aeronave
gerou mais de 8.500 empregos na cadeia produtiva que envolveu a engenharia de
produção e a área ferramental da aeronave. Destes, são 1.430 empregados diretos
com a Embraer. Nesta segunda fase de produção industrial, totalizam 6.360
empregos diretos e indiretos, envolvidos na fabricação de peças primárias e
células, até a montagem final.
Doutrina
Mas,
afinal, o KC-390 vai para qual Esquadrão da FAB? Eis a questão que tem
inquietado pilotos e interessados da área. O novo jato vai para o Grupo Kilo,
uma formação de pilotos especialistas na área de atuação do jato responsável
por fazer a implantação operacional. Criado em 2016, o grupo está envolvido com
a documentação operacional e com a estruturação do primeiro esquadrão que vai
receber a aeronave.
Assim
que ela for entregue, o grupo ficará imerso no universo da nova aeronave
imbuído em criar a nova doutrina do equipamento. Enquanto aguardam a chegada do
jato, o grupo também se organiza em Anápolis (GO), onde vai estar sediado o
time a partir do mês de março deste ano, quando a formação será composta por 12
aviadores e 30 graduados. Toda a idealização e organização desse modelo adotado
para receber o KC-390 é do Comando de Preparo (COMPREP), unidade da FAB que
concentrou as atividades de treinamento, avaliação e doutrina.
Segundo
o Chefe do Estado-Maior do COMPREP, Major-Brigadeiro do Ar Mário Luís da Silva
Jordão, a grande novidade do Grupo Kilo é que ele não vai reunir apenas pilotos
da Aviação de Transporte. “Devido às características amplas da aeronave e das
várias missões que ele pode fazer, o Grupo Kilo vai abranger todas as aviações
da Força Aérea”, disse.
O oficial-general explica que a capacidade multidisciplinar do KC-390 permite a integração de Asas Rotativas, Reconhecimento, Caça, Transporte e Patrulha. Um dos exemplos de equipamentos que serão incorporados ao KC-390 é o POD Litening, um radar de reconhecimento já empregado nos caças A-1 da FAB. “O POD Litening, que é um equipamento infravermelho, hoje é operado pelos esquadrões de A-1 de Santa Maria. Então, vamos trazer gente de Santa Maria para incluir nesse grupo”, acrescenta.
De
acordo com o cronograma, até 2019, esses militares vão ter dedicação exclusiva
ao Grupo Kilo e, depois de validar o jato nas missões operacionais militares,
entregam o KC-390 na configuração final de operacionalidade. Devido à expertise
adquirida, os envolvidos possivelmente devem assumir o comando da aeronave nas
primeiras missões reais. “Esse time vai ser a base do futuro esquadrão,”
declara o Major-Brigadeiro Jordão.
AEROVISÃO
Agência
Força Aérea
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