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Primeiras entregas do míssil MTC-300 estão previstas para 2023 Foto: JF Diorio/Estadão |
Roberto Godoy, O Estado de S.Paulo
O primeiro míssil brasileiro de cruzeiro, o MTC-300, com 300 km de
alcance e precisão na escala de 50 metros, entra na fase final de
desenvolvimento esse ano, com a retomada dos voos de teste. As primeiras
entregas para o Exército estão previstas para 2020 – encomenda inicial de 100
unidades, definida em 2016, está sendo negociada e será entregue em lotes
sequenciais até 2023. O investimento no programa é estimado em R$ 2,45 bilhões.
O míssil é o vetor mais sofisticado do desenvolvimento do Astros 2020, a
sexta geração de um sistema lançador múltiplo de foguetes de artilharia criado
há cerca de 35 anos pela empresa Avibras, de São José dos Campos. O Programa
Estratégico Astros 2020 cobre a compra e a modernização de uma frota de 67
carretas lançadoras e de veículos de apoio, a pesquisa do MTC-300 e também a de
um novo foguete guiado, o SS40G, de 45 km de raio de ação. No pacote entra a
instalação do Forte Santa Bárbara, em Formosa (GO), sede do grupo, que já opera
53 viaturas da versão 2020.
Destruidor
O míssil AV-TM 300 é utilizado para destruir alvos estratégicos a média
distância com grande precisão e danos colaterais reduzidos
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Fonte AVIBRÁS
Crédito Infográfico: Jonatan Sarmento/Estadão
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“O míssil expande a capacidade de dissuasão do País e confere ao Exército apoio de fogo de longo alcance com elevados índices de precisão e letalidade porém com mínimos danos colaterais”, analisa um oficial da Força ligado ao empreendimento. É um recurso empregado para missões de destruição de infraestrutura, como uma central geradora de energia ou um complexo industrial. A cabeça de guerra de 200 kg de explosivos é significativa. “Com duas delas é possível comprometer o funcionamento de uma refinaria de petróleo de grande porte”, considera o engenheiro militar.
A configuração do MTC 300 é o resultado de 13 anos de aperfeiçoamento. O
desenho é moderno, compacto, e utiliza asas retráteis que se abrem depois do
disparo partir do casulo transportado por uma carreta. O motor de aceleração
usa combustível sólido e só é ativado no lançamento. Até agora foram realizados
16 voos de ensaio. Há ao menos mais quatro em fase de agendamento antes do
começo da produção de pré-série.
Durante o voo de cruzeiro, subsônico, o míssil tem o comportamento de
uma pequena aeronave – a propulsão é feita por uma turbina desenvolvida também
pela Avibrás. Ela foi construída para durar 40 horas, dez vezes mais que as
quatro horas do tempo máximo de uma missão de ataque. A navegação é feita por
uma combinação de caixa inercial e GPS. O míssil faz acompanhamento do terreno
com um sensor ótico-eletrônico, corrigindo o curso em conformidade com as
coordenadas armazenadas a bordo.
Regras. A arma está no limite do Regime de Controle de Tecnologia de
Mísseis, o MTCR, do qual o Brasil é signatário. O acordo restringe o raio de
ação máximo a 300 quilômetros e as ogivas a 500 quilos. O MTC-300 está dentro
da distância fixada e atua com folga no peso, sustenta o presidente da Avibras,
João Brasil de Carvalho Leite.
O míssil ainda não tem o radar necessário para buscar alvos móveis. O
recurso permitiria realizar por exemplo, um disparo múltiplo contra uma frota
naval, liderada por um porta-aviões, navegando a até 300 quilômetros do litoral
– no caso do Brasil, eventualmente ameaçando províncias petrolíferas em
alto-mar. Uma bateria do sistema é composta por seis carretas lançadora com
suporte de apoio de viaturas remuniciadoras, um blindado de comando, um
carro-radar de tiro, um veículo-estação meteorológica, um de manutenção e,
quando houver uso do míssil, um de preparo de combate.
O MTC-300 é disparado por rampas duplas – cada carreta levará quatro
unidades. O Astros 2020 completo pode utilizar quatro diferentes tipos de
foguetes. O modelo SS-30 atua em salvas de 32 unidades e o SS-40, de 16. Os
maiores, SS-60 (70 km de alcance) e SS-80 (cerca de 90 km), de três em três. O
grupo se desloca a 100 km/hora em estrada preparada e precisa de apenas 15
minutos de preparação antes do lançamento. Cumprida a missão, deixa o local
deslocando-se para outro ponto da ação, antes que possa ser detectado.
O mercado internacional para o produto é amplo. Uma prospecção feita há
dois anos pela Avibras entre países clientes, operadores das versões mais
antigas do sistema de foguetes – Arábia Saudita, Malásia, Indonésia e Catar,
além de três novos interessados, não identificados – indicou um potencial de
negócios entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3,5 bilhões a serem definidos até 2025. A
empresa, que atravessou uma séria crise até 2015, quando registrou receita
bruta de R$ 1,1 bilhão, cresceu 20% em 2017, obtendo receita líquida de R$ 1,7
bilhões.
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