A
primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta quarta-feira (14/03) as
mais duras retaliações diplomáticas contra Moscou desde a Guerra Fria, após o
ataque ao ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha, envenenados com um agente
químico na Inglaterra.
As
medidas incluem a expulsão de 23 diplomatas russos do país – o maior número de
expulsões em três décadas – por suspeita de envolvimento em atividades de
inteligência no Reino Unido, além de ações para desmantelar o que chamou de
"rede de espionagem russa” no país. Os membros da diplomacia russa têm uma
semana para deixar o Reino Unido.
Em
pronunciamento ao Parlamento britânico, May culpou diretamente o Estado russo
pelos envenenamentos. Ela mencionou um "padrão de agressões russas em solo
europeu” e anunciou que medidas deverão ser tomadas para evitar essas práticas.
“Será
a maior expulsão de diplomatas em 30 anos, e reflete o fato de não ser a
primeira vez que o Estado russo age contra este país”, disse a premiê
britânica. ”Com essas expulsões, vamos fundamentalmente degradar a capacidade
de inteligência russa no Reino Unido por anos. E, se eles tentarem
reconstruí-la, vamos agir para evitar que o façam.”
A
primeira-ministra anunciou o reforço das defesas contra atividade de
"países hostis” em solo britânico, incluindo o monitoramento e
rastreamento de pessoas suspeitas que viagem ao país, inclusive com o reforço
da vigilância aos voos com destino ao Reino Unido.
May
anunciou a suspensão dos contatos de alto nível entre os dois países, inclusive
com o cancelamento de uma visita do ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov.
Ministros britânicos e membros da família real não viajarão à Rússia durante a
Copa do Mundo de Futebol.
Moscou
promete retaliar
A
primeira-ministra afirmou ter conversado com os presidentes dos Estados Unidos,
Donald, Trump, e da França, Emmanuel Macron, e a chanceler federal da Alemanha,
Angela Merkel. Ela disse que todos concordaram em cooperar contra o que chamou
de "atos bárbaros e interferências da Rússia”.
May
ressaltou que algumas das medidas a serem tomadas não podem ser anunciadas por
motivos de segurança pública. "É trágico que [o presidente russo Vladimir]
Putin tenha escolhido agir dessa forma, mas não vamos tolerar as violações
russas em solo britânico”, disse. "Não foi apenas um assassinato, mas
também um afronta às diretrizes internacionais do uso de armas químicas.”
May
reafirmou suas declarações anteriores de que é "altamente provável"
que Moscou esteja por trás do ataque, uma vez que foi detectado que a
substância que envenenou Skripal é de um tipo desenvolvido pela Rússia no fim
da Guerra Fria.
A
premiê havia pedido ao embaixador russo em Londres que esclarecesse a situação
até o fim desta terça-feira. A embaixada havia se recusado a responder ao que
chamou de "ultimato" até que Moscou tivesse acesso a amostras da
substância que envenenou Skripal.
No
primeiro pronunciamento do Kremlin sobre o caso, o porta-voz Dmitry Peskov
declarou nesta quarta-feira que "Moscou não aceita acusações infundadas
que não têm base em evidências, assim como a linguagem de ultimato” adotada por
Londres.
"Esperamos
que o bom senso prevaleça”, afirmou Peskov, alertando que seu país vai
responder a qualquer medida de represália que possa ser adotada por Londres
contra Moscou em relação ao envenenamento.
Antes
da fala de May, o Ministério do Exterior russo já havia dito que"nenhuma
das ameaças de sancionar a Rússia ficará sem resposta". Lavrov insistiu
que seu país não é culpado pela tentativa de homicídio e garantiu que o país
está disposto a cooperar com o Reino Unido nas investigações.
O
Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta quarta-feira para ser informado
das investigações sobre a morte de Skripal. O governo britânico havia pedido a
reunião em caráter de urgência.
Mais
um envenamento
O
caso Skripal não é o primeiro do tipo em solo britânico. Em janeiro, um
inquérito britânico sobre a morte de outro ex-espião russo Alexander Litvinenko
em Londres em 2006 concluiu que o presidente da Rússia, Vladimir Putin,
provavelmente aprovou a operação da inteligência russa para assassinar o
ex-membro do extinto serviço secreto soviético (KGB).
O
inquérito apontou que Putin e membros de seu governo, incluindo o Serviço
Federal de Segurança (FSB), tinham motivos para matar o ex-agente. O Kremlin já
havia sido acusado pelo assassinato Litvinenko em outras ocasiões, mas sempre
negou qualquer envolvimento no caso.
Litvinenko
era um crítico feroz de Putin e fugiu para Londres em 2000. Ele foi assassinado
seis anos depois, após beber um chá misturado com a substância radioativa
polônio-210, num hotel na capital britânica. Litnivenko morreu três semanas
após tomar chá envenenado.
Deutsche
Welle
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