Manaus (AM) – Eles estão dispostos a superar o que para muitos é
“impossível” para se tornarem Guerreiros de Selva, dignos de ostentar, no
chapéu bandeirante, no brevê e no facão, a cara da onça, símbolo do Guerreiro
que venceu as três fases do curso considerado o melhor e mais difícil do mundo,
na formação de militares que operam em ambiente de selva. Como testemunha desse
esforço, o Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro (CComSEx)
acompanhou, por uma semana, a segunda fase do Curso de Operações na Selva
(COS), do Centro de Instrução Guerra na Selva (CIGS), em especial as instruções
de Técnicas Especiais, cuja prioridade é aprimorar natação, orientação e tiro.
Localizada às margens do Lago do Puraquequara, área rural do município
de Manaus, a Base de Instrução Pedro Teixeira proporciona condições ideais para
o desenvolvimento das atividades de patrulhas, de tiros de ação reflexa e de
operações e instruções relacionadas ao emprego de meios fluviais e aeromóveis.
Durante o curso, nome e posto do militar são substituídos por uma
numeração que o torna simplesmente “aluno”. Dessa forma, a equipe de
instrutores, composta por oficiais e sargentos do CIGS, identifica e acompanha
cada um.
O COS 18/1 para oficiais e 18/2 para subtenentes e sargentos compõem a
primeira turma de 2018. Nessa segunda fase, dos 90 alunos que iniciaram o
curso, apenas 65 conseguiram manter os índices de rendimento para seguir para a
fase de Operações. “Além do vigor físico e da preparação prévia, é primordial
para o combatente ter uma habilidade natatória, para que ele possa cumprir
todas as missões, devido à peculiaridade do ambiente amazônico. É realmente bem
cansativo, mas o guerreiro tem que ser persistente”, enfatizou o aluno número
30, apontando a estratégia utilizada por ele para vencer cada desafio.
O militar-aluno do COS aprende que a resistência é um dos atributos mais
importantes para o futuro Guerreiro de Selva. As Leis da Selva pregam que o
combatente deve ter iniciativa, deve estar atento para não ser surpreendido,
deve manter armamento, equipamento e o próprio corpo em boas condições, deve
suportar o desconforto e a fadiga e ser moderado em suas necessidades, deve
pensar e agir como caçador, ser ardiloso e combater sempre com inteligência.
Na selva, uma das regras principais é andar sempre acompanhado. O
“canga”, forma como é chamado o companheiro, é o primeiro a prestar apoio. Além
disso, outros dois companheiros inseparáveis são a mochila, que carrega todo o
material para sobrevivência, e o fuzil que precisa estar sempre limpo e
lubrificado, pronto para a hora do combate.
O ritmo das instruções é sempre intenso, como o objetivo de levar o
aluno ao limite. Durante as três fases do curso, o acampamento é na selva. Na
área, batizada de “alojamato”, as redes são montadas para os raros momentos de
descanso, realiza-se a manutenção dos equipamentos e cada militar cuida de sua
apresentação pessoal. Mesmo nessas condições, é exigido do aluno fardamento em
bom estado, coturno limpo e engraxado, barba e cabelo aparados, cuidados que
devem ser priorizados antes do descanso, independente da hora em que acabou a
última atividade do dia. O calor, a umidade, a chuva que surpreende em vários
momentos do dia e a atividade física e mental intensa geram um cansaço quase
que insuportável, mas ninguém quer desistir.
A rotina daqueles que almejam se tornar Guerreiros de Selva inicia antes
do dia amanhecer. Com um apito, o instrutor aciona os dois grupamentos (COS
18/1 e 18/2) que estão em “alojamatos” diferentes. Cada grupo apresenta-se para
realizar uma atividade. O que o CCOMSEx acompanhou foi para o Cerimonial Tipo
2, que iniciou com uma minuciosa revista na mochila, para verificar se o aluno
estava carregando todos os itens obrigatórios, e uma verificada na boa
apresentação pessoal.
Visivelmente fadigados, em decorrência das instruções que terminaram há menos de três horas, os alunos aparecem marchando e entoando a canção do Guerreiro da Selva para entrarem em forma. Muitos enfrentavam a batalha contra o sono, enquanto outros dormiam em pé. A cobrança dos instrutores era o único fator que os mantinham em alerta. Aqueles que não correspondiam às exigências eram anotados ou recebiam advertências quanto à permanência no curso. Após a cerimônia, já com o dia claro, eles seguiram para um rápido café da manhã e iniciaram as instruções, como a de Tiro, Desembarque em Movimento, Técnica de Abordagem de Objetivo, até de madrugada, com breves intervalos apenas para almoço e jantar. “Dominar a Selva”, segundo o Capitão Rafael Oliveira, instrutor do CIGS, significa que o combatente está preparado para utilizar todos os recursos que estão em volta, a seu favor.
“É preciso estar preparado para combater nesse ambiente operacional. A
missão do CIGS é especializar militares no combate na Selva e realizar
pesquisas e experimentações doutrinárias para proteção e defesa da nossa
Amazônia”, explicou o Tenente-Coronel Alexandre Amorim Andrade, Chefe da
Divisão de Ensino do CIGS.
O COS tem duração de 12 semanas, divididas em três fases: Vida na Selva,
Técnicas Especiais e Operações. Com a experiência de 54 anos de atividades na
Amazônia, o CIGS se tornou referência internacional na preparação de militares
e atualmente possui um curso exclusivo para militares estrangeiros de nações
amigas, o Curso Internacional de Operações na Selva (CIOS).
“A criação do CIGS preencheu uma lacuna existente no Exército
Brasileiro, porque especializa militares para operar em um ambiente
estratégico. Ao longo da nossa história, o curso formou mais de seis mil
Guerreiros de Selva e somos como uma irmandade, com amizades forjadas nas
dificuldades e que cultua a ‘Mística’ da tropa de Selva”, salientou o Coronel
Nilton de Figueiredo Lampert, Comandante do CIGS.
Não é apenas uma especialização para o combate, o Curso de Guerra na
Selva transforma “Soldados” em verdadeiros “Guerreiros” que descobriram na
prática o real significado de um brado muito usado na região: “Tudo pela
Amazônia! Selva!”. Exemplos disso são as várias gerações de Guerreiros de Selva
que já “dominaram a Selva”, conquistaram a honra de ostentar o brevê com a
“cara da onça” e até hoje fazem questão de manter o relacionamento estabelecido
no decorrer do curso, pois "as amizades forjadas nas agruras da selva,
jamais fenecem".
Exercito Brasileiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário