ISTAMBUL - Desafiando a ameaça de sanções dos EUA, a Turquia começou a receber nesta sexta-feira, 12, o primeiro carregamento do sofisticado sistema de mísseis terra-ar S-400 que comprou da Rússia, em um passo importante para testar a posição do país dentro da Otan, ampliando a velha rivalidade entre russos e americanos.
A
chegada do equipamento coloca tecnologia russa dentro do território de um dos
mais antigos membros da aliança atlântica, algo visto por analistas como parte
de uma estratégia do presidente russo, Vladimir Putin, para criar divisões na
Otan.
A
aquisição do sistema S-400, que inclui um avançado radar para detectar
aeronaves, tem forte objeção dos EUA. Ontem, em um raro movimento bipartidário
em Washington, senadores democratas e republicanos se posicionaram contra a
compra, pedindo ao presidente Donald Trump que aplique sanções aos turcos.
O
sistema importado pela Turquia requer que engenheiros russos o coloquem em
funcionamento. O temor dos EUA é o de que, assim, eles terão oportunidade de
obter informações cruciais sobre jatos americanos comprados pelos turcos.
Essa
é uma das razões pelas quais o governo Trump se mobilizou para impedir a entrega
de novos caças F-35, uma das mais avançadas aeronaves dos EUA, para a Turquia,
e suspendeu o treinamento de seus pilotos. Ainda não está claro se a Otan, em
troca, poderia ter acesso a alguns segredos russos com a aquisição do S-400.
Base
O
problema, porém, vai além. A compra do sistema russo por um membro da Otan põe
em cheque o futuro da base aérea de Incirlik, operada conjuntamente entre EUA e
Turquia, e um posto crucial para as forças americanas na região. A base é local
de armazenamento de um grande número de armas nucleares táticas americanas, uma
herança da Guerra Fria, e está localizada ao lado de zonas de conflito, como
Iraque e Irã.
Para
analistas do Pentágono, o acordo com a Turquia é parte de um plano de Putin
para dividir a Otan. “As ramificações políticas são muito sérias, porque
confirma a ideia de que a Turquia está se desviando para uma alternativa não
Ocidental”, disse Ian Lesser, diretor do Fundo Marshall Alemão.
Estrategicamente
posicionada entre Europa e Ásia, e compartilhando uma fronteira no Mar Negro
com a Rússia, a Turquia tem sido ao mesmo tempo uma peça vital da Otan e um de
seus membros mais difíceis.
Com
um pé nos conflitos do Oriente Médio e outro na Europa, seus interesses nem
sempre se alinham com os da aliança atlântica, originalmente criada para a
defesa da Europa Ocidental contra os soviéticos. Em vez disso, sob a liderança
do presidente Recep Tayyip Erdogan, a Turquia tem desempenhado cada vez mais um
papel duplo na disputa entre EUA e Rússia.
A
Otan tem posicionado seu sistema de mísseis Patriot, de fabricação americana,
em solo turco desde o início da guerra civil na Síria, mas Erdogan insistiu que
seu país precisa do próprio sistema de longo alcance.
A
Turquia tentou por anos comprar seu sistema de mísseis Patriot, mas as
negociações com Washington nunca produziram um acordo. O presidente Trump, no
encontro do G-20, no mês passado, atribuiu a culpa ao ex-presidente Barack
Obama.
Para
o professor de relações internacionais da Universidade Altinbas, de Istambul,
Ahmet Han, a Turquia realmente precisa preencher uma lacuna em suas defesas. No
entanto, ao comprar o sistema russo, os resultados político-militares da
transação podem se transformar em uma fraqueza para sua segurança. “Essa
entrega (do sistema) já causou uma vulnerabilidade, porque prejudicou as
relações da Turquia com a Otan.”
A
chegada do sistema russo introduziu uma consideração extra e tensão em todas as
operações da Otan, segundo Han. “Isso é exatamente o que a Rússia está buscando”,
disse. Segundo a agência de notícias russa Tass, outro avião com mais partes do
S-400 deve decolar em breve.
Uma
terceira entrega de mais de 120 mísseis de diferentes tipos está programada
para ser executada por via marítima até o fim de setembro. / AFP, EFE e NYT
Nenhum comentário:
Postar um comentário