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3 de junho de 2022

Tendências para o Combate do Futuro

Tendências para o Combate do Futuro


Atualmente, estamos vivenciando um período de transição da sociedade industrial para a sociedade da informação e do conhecimento. O cenário estável, simples e previsível, com mudanças lentas e controláveis passou a dar espaço a um cenário instável, complexo e imprevisível, com mudanças rápidas e fora do controle. Esse processo acelerado de mudanças no cenário mundial está em fase de consolidação, com impactos profundos nas áreas política, econômica, social, tecnológica e também militar.

Nesse ambiente mutante cada vez mais veloz, com oferta de tecnologia da informação e comunicação cada vez mais acessível e abundante, onde cada indivíduo tem acesso a tudo, a todo tempo, a pergunta que se faz é: como se adaptar a essas mudanças a fim de obter vantagens no campo de batalha?

Coordenação de efeitos

Os Estados Unidos da América (EUA) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estiveram focados no combate de baixa intensidade nos últimos 20 anos empregando suas forças em atividades de contrainsurgência e estabilização. Nesse período, a China e a Rússia desenvolveram capacidades militares convencionais e não convencionais, buscando equilibrar o poder de combate com os EUA.

As novas capacidades da Rússia e da China alertaram os EUA para necessidade de atualizar as suas capacidades no campo de batalha, visando a manter a vantagem competitiva em caso de um conflito. A atual situação geopolítica impulsionou a entrada dos EUA no chamado multidomínio, provocando a atualização do Manual de Operações sobre o tema, que deverá ser publicado este ano, orientando o processo de transformação das Forças Armadas daquele país.

O combate multidomínio consiste na integração completa dos meios de combate, visando garantir a superioridade por meio da combinação e coordenação de efeitos. Como podemos verificar, os ensinamentos de Clausewitz seguem orientando o pensamento militar.

A integração dos meios de combate será coordenada por meio da Inteligência Artificial (IA), que auxiliará na melhor forma de concentrar os efeitos cinéticos e não cinéticos sobre o inimigo. Nesse contexto, os algoritmos auxiliarão na seleção do alvo mais importante, buscando a melhor forma de atingir o centro de gravidade do inimigo. Além disso, essa sequência de programação estabelecerá as regras de engajamento no campo de batalha.

O Campo de Batalha

O novo campo de batalha incrementará a letalidade, a distância de engajamento e a precisão do armamento, tornando a mobilidade um diferencial entre vida e morte. As tropas de baixa mobilidade serão alvos fáceis para os novos e mais precisos armamentos.

O emprego dos mísseis de longo alcance pela Rússia em Zelenopillya (Ucrânia) em 2014 apresentou o prelúdio do que está por acontecer. Nesse caso, um batalhão inteiro foi destruído em poucos minutos.

Os carros de combate atiram em movimento. Os morteiros 120 mm já começaram, também, a executar o tiro em movimento. Dentro em breve, essa tecnologia passará para os veículos autopropulsados da artilharia. Em outras palavras, o combate se desenvolverá num movimento praticamente contínuo, onde a velocidade será essencial para sobrepujar o oponente.

O combate contínuo está projetado para o ano de 2035, onde começarão a aparecer as primeiras brigadas totalmente interconectadas, capazes de enfrentar o inimigo numa velocidade até então não imaginada (a previsão é que seja até 10 vezes mais rápido).

O Campo de batalha, integrado em todos os seus domínios e escalões, será controlado por um MegaData, recebendo e processando todas as informações dos sensores por meio da IA e dos algoritmos. A proteção do Megadata será prioritária, pois a perda do seu controle ocasionará a ruptura do controle entre os homens e os seus equipamentos que, cada vez mais, tem sua atuação autônoma aumentada. O combate terrestre está se configurando em três linhas: a primeira mobiliada por sensores, a segunda por atuadores autônomos (terrestres e aéreos) e a terceira por tropa constituída por homens, dotados de armamento com capacidade de disparo além da linha de visada. O primeiro objetivo será destruir os sensores para cegar o oponente e na sequência, os veículos autônomos. Aquele contendor que perder as duas primeiras linhas experimentará o combate contra tropas constituídas de homens e máquinas, atuando de forma colaborativa e interconectada.

As viaturas blindadas

Atualmente, os países do arco do conhecimento estão concebendo a formulação dos conceitos, dos requisitos e das métricas para o combate do futuro, dentro dos preceitos acima apresentados.

Sobre potência de fogo, os carros de combate ou Main Battle Tank (MBT) dos principais países da OTAN não devem sofrer nenhuma mudança significativa nos próximos anos, além da modernização dos equipamentos de controle de tiro e inserção de equipamento para possibilitar a integração do campo de batalha.

O canhão 120 mm de alma lisa segue como tendência entre os MBT, não havendo perspectiva de mudança no curto prazo. O Reino Unido está trocando os seus canhões 120 mm de alma raiada para lisa L55, buscando a comunalidade entre as munições com os demais países da OTAN.

No quesito proteção, a mecanização vem despontando como a forma mais viável de entrar no combate moderno, garantido relativa segurança às guarnições. O blindado sobre rodas funcionará, também, como um meio de integração por meio dos seus sensores e maior capacidade de transmitir e receber dados no campo de batalha interconectado.

As viaturas blindadas estão recebendo uma série de sensores como: sensor de alerta laser, sensor acústico de detecção e sensor de intrusão QBN, todos no sentido de aumentar a proteção da guarnição. Uma vez integrados aos atuadores, por meio dos sistemas de gerenciamento do campo de batalha com IA, essas viaturas aumentarão sua capacidade autônoma de eliminação de ameaças.

Para fazer frente às novas ameaças, serão gradativamente incorporados sistemas de proteção híbridos às blindagens. O conceito de sistema de proteção híbrida alia a blindagem passiva propriamente dita aos sistemas de proteção ativos (hard e soft kill) e aos sistemas de blindagem reativa explosiva. Nesse aspecto, o core é proporcionar proteção contra as munições de energia cinética disparadas pelos carros de combate, contra munições de artilharia e disparadas por drones (loitering ammunitions), além das ameaças para as quais já foram projetadas individualmente.

No que diz respeito à mobilidade, o desafio é manter a velocidade e a capacidade de transpor obstáculos das viaturas, em que pese o incremento de peso gerado por conta dos diversos novos sistemas incorporados. Tudo isso, observando elevados padrões de exigência no que tange a ruídos e vibrações.

Os principais entraves apresentados para a adequação dos blindados ao novo campo de batalha são os seguintes:

- Os novos sensores e equipamentos aumentarão a demanda de energia que deverá ser sustentável dentro do campo de batalha;
- O alcance e a segurança das comunicações são essenciais para garantir o emprego das máquinas nesse novo ambiente;
- Montar uma arquitetura de rede aberta para conectar todos os meios de combate, garantindo ao mesmo tempo a segurança contra a guerra eletrônica; e
- Reduzir a necessidade de apoio logístico, aumentando a autonomia em combate.

Essas tecnologias disruptivas já constam das formulações conceituais dos programas de transformação e modernização dos países centrais. Tais inovações provocarão modificações no preparo e emprego, aprimorando a capacidade dos exércitos para o combate do futuro, que retomarão a capacidade de fazer a guerra em alta intensidade e em larga escala.

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!

André Sá e Benevides Arruda – Cel Cav
Centro de Doutrina do COTER
Daniel Bernardi Annes – Ten Cel
Comandante do CI Bld

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